9 de fev. de 2012

NOSSA ESCOLA PEDE SOCORRO: "A AULA PODE FICAR PRA DEPOIS"


Tenho evitado me espantar com coisas teoricamente estranhas, as mais escabrosas e possivelmente incogitáveis. Minha laica e ingênua visão de que nada presta já perdura há algum tempo, mas eu só a pratico nos momentos mais reflexivos, aqueles em que me dou a judiar de minha própria alma. Na condição de componente da área educacional, fiquei meditando estes dias sobre como os estudos são descartados em preferência a outros eventos como o carnaval, os reality shows, bares, praças e afins.

Meu parecer já é - de início - de que somos realmente perdedores, pelo menos o temos sido até agora. No geral, havendo qualquer batucada no meio da rua, ainda que não apresente bons atrativos, grande parte da clientela estudantil - regular ou preparatória para exames - infelizmente terá a festinha como compromisso inadiável, pois a aula sempre "pode ficar pra depois", como alguns gritam pelos corredores, com os cadernos caindo pelas pernas, de tanta pressa para não se atrasar no "evento".

Caso os alunos em questão não tenham afinidade com as atividades mais barulhentas, com os ritmos que "abalam as estruturas" da maioria dos adolescentes atuais (o que é pouco provável), as telas da TV não os deixarão estudar, visto que ao exibirem os programas exploradores da privacidade alheia, terão verdadeiros paladinos, aliados da mais profunda fidelidade. Quem precisa de aula? Afinal, não estamos na China. Ela "pode ficar pra depois", como sempre. Enquanto educadores, mais uma derrota nos é oferecida.

Não deveria - aqui - falar das redes sociais e toda a tecnologia correlata. Embora elas pudessem ser muito mais aliadas da nossa quase falida educação, têm-se transformado, por nossas mesmas falhas, bem mais que sérios vilões. Não raro temos problemas com alunos que as utilizam pelos celulares nos inúmeros modelos que surgem deliberadamente, com outros propósitos, dentro da sala de aula. A lista de adversários poderosos se estende aos barzinhos, às praças públicas - onde a conversa rotineiramente é "atraente", "interessante", e a outros lugares com semelhantes estrutura e finalidade.

De fato, estamos muito atrasados e - logo - ameaçados por essas atividades "extracurriculares" que os estudantes preferem. Não sei nem apontaria quem é o principal culpado, mas entendo que, estando inserido no processo educacional, dou a mão à palmatória por contribuir com esse quadro, embora tenha plena consciência de cumprir meu papel e de que em muitos casos, falta acompanhamento e disciplina estabelecidos pelos pais. Mas não é possível esconder que a escola, nessa disputa desleal, continua nas piores colocações, mal tendo condições de respirar.

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