4 de mai. de 2012

Paradoxo necessário: melhor reprovar ou avançar sem saber?



Cassildo Souza

Sei que a matéria é cheia de obstáculos, mas a reprovação é um tema que precisa ser mais debatido entre os estudiosos da educação, incluindo os professores, que, junto aos alunos, executam mais diretamente o processo de ensino e aprendizagem. Os “modernos” não admitem, sob hipótese alguma, reconsiderar certos conceitos, sob o argumento de que reprovar é sinônimo de incompetência escolar e que não contribui para o crescimento do aluno. É necessário ampliar as discussões sobre essa vertente, considerando as situações peculiares.

Em primeiro lugar, quando se trata de educação, receitas em curto prazo não existem. Afirmar é sempre perigoso; presumir é mais recomendável. Atuando na docência há alguns anos, reconheço que a reprovação pode causar diversos traumas ao aluno que, porventura, tenha dificuldades na aprendizagem mas procura se esforçar ao máximo, a fim de atingir melhores resultados. Não poucos desistiram de estudar após “fracassarem” ao final de um ano letivo. Isso, sem dúvidas, também é indício da má qualidade do processo educacional brasileiro que, com inúmeras dificuldades, inviabiliza a motivação das crianças e consequentemente seu pleno desenvolvimento. Trata-se de um ponto que deve ser levado em conta.

         No entanto, o contrário também ocorre. Muitos adolescentes passam a não demonstrar esforço algum nos bancos escolares, se mesmo após um ano de descumprimento às obrigações, avançaram de nível; não aprenderão – provavelmente – a valorizar o mérito, o esforço, a realização das tarefas, a curiosidade pelo conhecimento que deve permeá-los; na vida, é assim que as coisas funcionam. Adultos, eles terão de passar por exames, provas de concursos e vestibulares. A escola também tem obrigação de habituá-los a esse tipo de situação. É preciso que eles compreendam essa necessidade. Se um estudante não precisa se esforçar para atingir as etapas seguintes, e chega a tais estágios sem uma base formada para poder cursá-los corretamente, possivelmente não conseguirá – também – recuperar certos conhecimentos e essa reprodução é negativa.

                O fato é que temos de considerar os dois lados dessa história, já que o assunto é dual. Cada caso merece análise diferenciada, é isso que defendemos. Sou testemunha – assim como vários de meus colegas – que em muitas situações a reprovação acaba beneficiando aquele discente disperso, pouco esforçado, servindo como uma espécie de alerta para que ele mude suas atitudes; também – às vezes – pode ajudar a desmotiva-lo e por consequência a desistir de seus estudos. Entendo que deve haver uma ampla discussão sobre a temática, sem preconceitos, sem demagogia, sem mascarar a situação real do processo educacional das escolas do país. O que não podemos – e isso eu defendo categoricamente – é deixar os alunos chegarem à universidade sem saber ler, escrever, fazer deduções. Isso não é construir uma boa educação. Melhor reprovar ou avançar sem saber?


2 comentários:

Linguistas Afins disse...

Nossa... estou respirando profundamente e lento para poder deixar meu comentário a respeito. Compartilho a sua posição com relação a esta problemática, de fato, é de se considerar a dualidade existente. Porém, gostaria de, por um instante, não ter o olhar para o aluno, mesmo sem esquecê-lo, mas sim para o professor. O que motivará ou desmotivará esse mestre diante de inúmeras aulas planejadas, pesquisadas, estudadas, discutidas se, após uma prova, também planejada, sempre pensando no aluno, diga-se de passagem,é entregue em menos de 30 min? Ao analisá-la é notória a falta de compreensão pelos alunos que não correspondem, alguns em quase nada, onde até o próprio nome não é identificado na prova. Como pode se estimular um professor que, diante de tantas causas, é questionado por uma supervisão por que o aluno não alcançou tal média e aquela nota não pode permanecer pois irá desmotivá-lo aos estudos? Como fica a consciência desse professor que sabe que não está contribuindo para uma educação de qualidade visto que interesses dominantes lhe pressiona e lhe sufoca, pois o mais interessantes são números hipócritas nas estatísticas para uso da demagogia em massa. Colega, lembro do poema que li esta semana encontrado no próprio livro didático "QUIPROQUÓ". Sinto, vivemos num quiproquó, e que quiproquó...

Parabéns pelas suas deixas. Adoro essas reflexões, embora corroam minh'alma.

CASSILDO SOUZA disse...

Verdade. Os professores é que têm de arcar com todos os ônus e não com os bônus. Mas nós nao podemos nos curvar diante de certas pressões. Não sei como é a realidade de sua escola, mas aqui na nossa esse diálogo é aberto e entendo que - por isso - no geral, temos tido bons frutos. A discussão tem de haver sempre. Grande abraço!