16 de mai. de 2012

Quanto vale um 10,0?


                 Deixo claro que – apesar de ser professor – minha área não é tecnicamente a Pedagogia. No entanto, a minha formação humanística (Letras) e a minha atuação diária não me permitem calar   sobre questões educacionais, especialmente por entender que o laço teoria-prática precisa ser buscado o tempo todo. É nessa vertente que pretendo abordar um assunto que nos rodeia corriqueiramente, a atribuição de números para avaliar nossos alunos. Afinal, o que precisa ser feito para se alcançar a nota 10,0, o nível máximo de uma tarefa? Pode-se sair distribuindo notas sem critério, apenas para agradar o aluno?

                A nossa responsabilidade é grande, especialmente quando temos de pontuar uma atividade que aplicamos. Se o sistema estabelece uma nota quantitativa como parâmetro para se avançar aos estágios seguintes, não podemos avaliar o rendimento a toda maneira ou sem a noção correta do que significa aquela nota. Um aluno que atinge – por exemplo – 8,0 está alcançando 80% de aproveitamento sobre determinada atividade, o que corresponderia, simplesmente, a realizar plenamente 4 tarefas a cada 5 orientadas. Convenhamos, é um aproveitamento muito bom e nem possível de se conseguir. Ou seja, para estar num nível desses, é preciso trabalho, raciocínio, cumprimento dos desafios propostos. 

                O fato é que temos presenciado ou tido conhecimento sobre alunos que apresentam notas acima desse patamar no ensino fundamental e, no entanto, ao chegarem para cursar o ensino médio, demonstram dificuldades para habilidades fundamentais, como escrever, interpretar  e fazer correlações simples. Há muitas situações em que o histórico escolar diverge – e muito – daquilo que o discente tem apreendido durante a trajetória do ensino básico. Todos os dias, em minha sala de aula, especialmente alunos da primeira série reclamam que antes suas notas eram acima de 9,0 e que mal conseguem, no período atual, chegar acima de 6,0. Cabe-nos uma pergunta: estamos atribuindo devidamente as notas de nossas crianças e adolescentes? Será que nosso rigor não está abaixo da crítica?

                Se é fácil atingir um grau 9, podemos ver três possibilidades aí: primeiro, os estudantes entendem e realizam tudo quase perfeitamente; segundo, os trabalhos indicados para ele estão num nível abaixo do que podem oferecer; terceiro, a nota sugerida está acima do grau de cumprimento dos desafios aplicados. O compromisso com a fidelidade das informações também é de competência do professor. Se a primeira possibilidade ocorre – é o que deveria – tudo está bem, e aí não haverá prejuízos ou tanta dificuldade em níveis subsequentes; caso a segunda opção seja o motivo de uma nota maior, isso pode ser corrigido depois, já que se trata de uma avaliação, e isso inclui professores e alunos em primeira instância; mas se o terceiro tópico é a razão (e é o que mais ocorre, de fato), estamos oferecendo avaliações imprecisas, equivocadas e dizendo a nossos alunos que eles conquistaram um nível ao qual ainda não estavam preparados.
             Nota 10,0 é a porcentagem completa; deve ser o reflexo da realização plena de tarefas propostas em todos os seus aspectos, inclusive os qualitativos, ainda que seja uma representação numérica. Não nos cabe atribuir notas aleatoriamente, porque o sistema não permite a continuidade aleatoriamente, há um limite mínimo de aproveitamento, seja 6,0 ou 7,0. Essa temática, em minha visão, deveria ser melhor debatida, para que os profissionais docentes pudessem representar fidedignamente aquilo que eles conseguem repassar a sua clientela, bem como o nível de apreensão desses discentes, sob pena de sermos responsabilizados por atribuirmos um conceito que não condiz com a realidade escolar.

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