23 de dez. de 2014

RESULTADOS DO ENEM 2013 REFLETEM POUCAS MUDANÇAS CONCRETAS NO ENSINO PÚBLICO BRASILEIRO

Cassildo Souza

Os resultados gerais do ENEM / 2013 denunciam uma triste, mas já esperada realidade, em se tratando do ensino brasileiro: das 100 escolas com melhores médias nacionais, apenas 7 são públicas. E tal cenário tenderá a permanecer, caso o nosso país continue a ignorar os investimentos (de ordem estrutural, qualificatória remuneratória) nos primeiros níveis de ensino e se as condições socioeconômicas desses alunos se mantiverem. Justiça seja feita, alguma coisa mudou nos últimos anos, mas em a dívida sendo histórica, é preciso maior celeridade na tentativa de diminuir tamanha diferença entre alunos públicos e privados.
As ações nesse sentido não podem limitar-se a instituir cotas sociais para reparar, de maneira provisória e remediadora, os atrasos de nosso sistema educacional. Valem até certo ponto - também não se pode ignorar completamente esse tipo de política, por diversas razões a serem discutidas em outro momento. A raiz do problema, todos sabem, está lá embaixo, na base, nos primeiros níveis de ensino, os quais serão decisivos na formação do aluno quando este atingir o nível médio. É lá que o aluno precisa alicerçar seus conhecimentos especialmente em matemática e língua portuguesa, os dois componentes mais importantes na escolarização de qualquer indivíduo.
Além disso, é preciso continuar buscando a melhoria de condições econômicas das famílias com baixa renda, às quais pertencem os alunos que não conseguem um rendimento satisfatório na prova. Os dados mostram que quanto mais alto o nível socioeconômico, maior a nota obtida no Exame. Cerca de 97% das escolas que obtiveram as melhores notas na edição do Enem 2013 são compostas por alunos ricos, com nível socioeconômico alto ou muito alto. Impossível seria ignorar essa estatística, a qual relaciona, de maneira clara, as condições sociais e condições de aprendizado. Não se afirma, com isso, que os alunos pobres não podem aprender com qualidade, e isso até tem acontecido, mas a probabilidade de um estudante que enfrenta condições adversas apresentar bom rendimento em sua escolaridade é bem menor em comparação àquele que dispõe de uma estrutura a seu favor.
O Brasil precisa olhar com mais ênfase o ensino básico, ao mesmo tempo em que deve continuar - e com mais agilidade - primando por resolver problemas sociais crônicos. A segunda opção parece estar um pouco à frente da primeira, e isso pode ser um problema. Os níveis mais básicos de ensino muitas vezes são deixados de lado, em preferência a uma campanha pela entrada nas universidades que nem sempre se dá de maneira meritória. O aluno que vai à universidade, hoje, beneficiado eventualmente por políticas públicas de inclusão (justíssimas, por sinal) precisa ter tido uma boa escolarização nos níveis primários para poder consolidar seus estudos com qualidade e com boas perspectivas de atuação, ao concluir sua graduação. E isso, se considerarmos os dados do ENEM, concebido prioritariamente para medir a qualidade do ensino médio, está longe de acontecer, em se tratando de escola pública. Mudanças substanciais precisam ocorrer.

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