7 de jun. de 2016

O grau de responsabilidade dos professores na aferição do conhecimento


           É comum reclamarmos do sistema educacional brasileiro, por sua qualidade questionável, pela falta de aprendizado significativo dos alunos ou pelo ensino tradicionalmente mecânico e cumulativo, que não tem a preocupação em formar um cidadão que seja plenamente crítico ao sair do ensino básico.  Um dos motivos desse aprendizado com qualidade duvidosa pode estar – dentre outras razões – na aferição equivocada do conhecimento realizada pelos professores. Não raro vemos alunos com dificuldades no aprendizado apresentando notas quantitativas muito altas, o que acaba por revelar uma falta de fidelidade entre o estágio em que o estudante se encontra e o que os números demonstram.

           Como professores, devemos ter muito cuidado na atribuição de uma nota. Estou considerando que a nota é o resultado de uma série de processos de determinado período, uma vez que a avaliação é aspecto de extrema abrangência e envolve a análise de várias competências e habilidades do educando. Mas, se nessa análise, acabamos por atribuir notas incompatíveis com o resultado de uma tarefa, acabamos também por sermos injustos, à maioria das vezes de maneira “favorável” ao aluno. Tomemos como exemplo a nota de uma redação que o professor de Língua Portuguesa – componente da área Linguagens – atribui a um discente. Digamos que considerando uma série de critérios, a nota real, justa seja um 6,8. Muitas vezes o professor, sob a justificativa de reconhecer o esforço do aluno, atribui-lhe um 8,0, como se aquilo não viesse a ter consequências drásticas. Aquele estudante passa a entender que o seu texto de fato vale 8, o que representa uma distorção da realidade.

O exemplo anterior é apenas um, dentre vários que poderíamos citar aqui. Todos os dias, seja na escola pública ou privada, alunos conseguem rendimentos que não se alinham a sua prática diária. Professores relativizam equívocos, deixam de corrigir falhas, agem passivamente no intuito de favorecer um avanço de estágio do aluno. É evidente que não vamos defender aqui a reprovação em massa, a reprovação punitiva ou algo parecido. Mas não podemos deixar de cumprir nossa função adequadamente, mostrando a nossos discentes as virtudes e suas deficiências, fazendo-os ter noção clara da realidade de aprendizado em que se encontram, para que assim tenham condições de superar as dificuldades que o processo de ensino naturalmente apresenta. Saber quanto vale um 10,0 é de fundamental importância, visto que ele representa a nota máxima, devendo então ser atribuído quando uma atividade proposta for plena e competentemente realizada.


Causa-me preocupação, sim, essa distorção. Acontece que os professores que procuram ser justos (eu falei “justos” e não benevolentes) muitas vezes são estigmatizados de cruéis, de ultrapassados, de detalhistas, metódicos. Isso acaba por gerar uma cultura em que é mais fácil ao profissional favorecer o aluno – tido equivocadamente como o fraco, o coitado, o patinho feio. Esses conceitos nem deveriam ser considerados. No processo de ensino e aprendizagem, há apenas posições diferentes e não hierarquia. Os alunos são capazes de desenvolverem-se plenamente e não nos cabe – enquanto mestres – a função de agradá-los fazendo-os acreditar num nível que não condiz com a sua realidade. Nossa função é, ao contrário, apontar virtudes e dificuldades, contribuindo para aperfeiçoar aquelas e superar estas. Assim, estaremos de fato contribuindo para que esses meninos aprendam significativamente. Temos, sim, um grau de responsabilidade muito grande na aferição do conhecimento e na consequente atribuição dos resultados de nossos alunos. Vale a reflexão.