Cassildo Souza
Ano bissexto: 2008. A sabedoria popular, que vem profetizando condições favoráveis a um bom inverno, se confirma. A maioria de nossos reservatórios estão praticamente abastecidos, garantindo, até o presente momento, água para as necessidades humanas, animais e vegetais. Mas o ciclo chuvoso não tem trazido somente esperança e otimismo para a população. Com a incidência constante, algumas cidades estão começando a entrar em clima de pânico.
O contraste reside no fato de que, infelizmente, nossa infra-estrutura não está preparada para esse período. É impressionante como as nossas autoridades subestimam a força de um fenômeno que, como sabemos, aqui no Nordeste é irregular. Mesmo assim, não se justifica que, por causa dessa inconstância, estejamos sempre desprovidos de recursos suficientes para garantirmos o mínimo de segurança e conforto principalmente àqueles que moram em locais mais críticos, onde ocorrem alagamentos, desabamentos, falta de acesso a escolas, a hospitais, ao trabalho. Onde a água parada assusta como criadouros do mosquito Aedes Aegypti.
Contudo, as ações não se limitam à obrigação do governo para que as águas tenham uma destinação adequada. A população também precisa cumprir o papel de cidadania, evitando poluir as ruas, fazendo a coleta de lixo regularmente. Como é sabido, uma das coisas mais preocupantes quando chove são exatamente os entulhos que impedem a passagem das águas e muitas vezes causam os alagamentos. Se não houver interação entre Estado e comunidade, as chuvas, contraditoriamente, trarão muitos prejuízos para nós.
É preciso que haja conscientização dos benefícios e dos malefícios que o inverno pode trazer. Chuva sempre é bem-vinda, desde que estejamos prontos para recebê-la, de braços abertos, para desaguá-las nos açudes, rios, mares e oceanos. Afinal, “águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão”. Vencer esse paradoxo implica articulação de ações concretas, políticas preventivas e eficientes, com a participação ativa do cidadão.