MODELOS DE CARTAS ARGUMENTATIVAS


PARTICULARIDADES DA CARTA ARGUMENTATIVA



Antes de visualizarmos os modelos, é importante sabermos em que reside a diferença entre carta-argumentativa e artigo de opinião. Se ambos os textos são de cunho dissertativo-argumentativo, têm bastantes elementos semelhantes. Ambos trabalham com base na opinião de seu autor, mas são gêneros específicos. Aliás, o termo gênero textual refere-se à situação comunicativa, isto é, a quando usar a carta e quando usar o artigo.
A carta-argumentativa caracteriza-se por ser uma correspondência com um leitor definido, específico, em oposição ao artigo, que é produzido sempre se pensando num leitor geral, num conjunto de pessoas geralmente desconhecidas.
A dificuldade dos alunos se apresentam, muitas vezes, em levar isso para o papel. Inúmeros são os casos em que a estrutura é de carta, mas o texto é de artigo como, por exemplo, o texto a seguir:


Currais Novos/RN, 11 de setembro de 2008

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação,

Ao analisarmos os diversos problemas enfrentados pelos brasileiros, percebemos que a educação apresenta-se como um dos mais graves. Apesar da queda do analfabetismo na última década, ainda assumimos uma posição vergonhosa no “ranking” latino-americano.


Essa questão torna-se complexa, pois está relacionada a diversos problemas nacionais como a desigualdade na distribuição de renda, a exploração do trabalho infantil, dificuldades no acesso às escolas, exploração sexual de crianças e adolescentes, perfazendo um conjunto de tristes realidades, que separam cada vez mais, as famílias em situação de vulnerabilidade social do sistema regular de ensino.


As deficiências no processo de ensino-aprendizagem também merecem atenção, principalmente nos primeiros anos escolares. Metodologias de ensino inadequadas, carências de recursos humanos e materiais, péssimo sistema de transporte escolar, além de baixos salários, são elementos importantes que contribuem para a evasão escolar e para a má qualidade do serviço prestado.


Diante de tal situação, precisamos, ainda, percorrer um árduo caminho para que possamos ter um país que veja a educação com a seriedade merecida. Sendo assim, a valorização do magistério, a informatização das escolas, a capacitação profissional, além de um melhor planejamento dos recursos aparecem como estratégias importantes, para transformar o Sistema Educacional em um serviço eficiente e eficaz.

Atenciosamente,

Educalson Brasileiro

Apesar de a formatação ser de carta, não se tem a referência ao destinatário dentro do texto. Expressões como "Vossa Excelência", "Senhor Ministro", ou até mesmo o uso de primeira pessoa do singular dariam ao texto essa indicação. São elementos detalhísticos que denunciam o gênero da carta e que muitas vezes não são considerados pelos alunos. Nesse texto, abordam-se os problemas relacionados à educação, mas de forma muito distante, como se não se fizesse referência específica. Vejamos, para se ter um caráter maior de carta, como ficariam alguns trechos do texto acima:

Ao analisarmos os diversos problemas enfrentados pelos brasileiros, percebemos que a educação apresenta-se como um dos mais graves. Apesar da queda do analfabetismo na última década, ainda assumimos uma posição vergonhosa no “ranking” latino-americano, conforme tomei conhecimento através da imprensa escrita, radiofônica e televisada.

Percebam que o simples fato de se utilizar um verbo em primeira pessoa caracteriza melhor o gênero carta. Assim como em outros pontos:
Diante de tal situação, Excelentíssimo Ministro, entendo que precisamos, ainda, percorrer um árduo caminho para que possamos ter um país que veja a educação com a seriedade merecida. Sendo assim, a valorização do magistério, a informatização das escolas, a capacitação profissional, além de um melhor planejamento dos recursos aparecem como estratégias importantes, para transformar o Sistema Educacional em um serviço eficiente e eficaz. 
Como cidadão, espero que o Senhor, como representante maior da Educação Nacional, mobilize os órgãos competentes, principalmente a Presidência da República, para que estas e outras sugestões venham a concretizar-se. Confio na sua competência, mas muito mais no seu bom senso, para que a nossa realidade passe a fazer parte de estatísticas bem diferentes.

As indicações em negrito oferecem ao texto anterior um diferencial a fim de que se possa discriminar melhor a carta, dando-lhe características próprias, distinguindo-a do artigo de opinião.
Vejamos, a seguir, modelos de cartas argumentativas, seguindo o teor do explicitado acima.

MODELO DA CARTA ARGUMENTATIVA

Currais Novos / RN, 25 de novembro de 2012.

Caro aluno,

A carta argumentativa é um dos gêneros textuais cobrados pela COMPERVE há alguns anos, mas ainda causa preocupação nos candidatos, como é o seu caso, motivo pelo qual, como professor, sinto-me no dever de fazer algumas ponderações sobre tal gênero, para mostrar-lhe que não se trata de produção tão complexa, como você pensa. Basta seguir algumas orientações.


Veja bem: carta pode ser comparada a um e-mail que você envia para alguém, mas no caso específico do vestibular, ela exige certas formalidades, como o uso da norma culta. Entenda que essa forma textual deverá apresentar argumentos, dentro de uma situação comunicativa proposta pela banca para tentar convencer alguém sobre algum assunto. Vemos, então, que não se trata de algo impossível de se produzir, basta conhecer bem o tema e sua estrutura, como explicarei no parágrafo seguinte.


Diferentemente do artigo de opinião, na carta é preciso destacar as marcas do destinatário, e isso favorece a criatividade do autor, portanto é bem mais interessante escrevê-la, em modo de pensar. Como se trata de um diálogo, percebemos, estimado candidato, que a linguagem tende a ser diferente da do artigo, pois dá certa liberdade ao emissor, o que também acaba sendo um aspecto positivo e, assim, não tão difícil de ser construído.  

               
Prezado estudante, é óbvia a facilidade que esse gênero chamado CARTA dispensa a quem o produz. Espero que você use tais características a seu favor, na hora de produzir o texto; é preciso adequar-se ao destinatário, “dialogar” bastante com ele e simplificar certas construções frasais, já que a escolha das palavras não precisa ser pela sua dificuldade e sim pela praticidade na comunicação, com observância à norma culta da língua.

Boa carta,

Professor Atento
 
Currais Novos, RN, 12 de maio de 2011.

Santíssimo Papa Bento XVI,

Assunto complexo é o que alude ao casamento envolvendo padres vinculados a essa Instituição, coordenada por Vossa Santidade, matéria bastante comentada, especialmente no Brasil, onde mais de 7 mil sacerdotes encontram-se em tal situação de matrimônio ou em união estável.

Sou sabedor de que a Santa Igreja apóia-se em dogmas milenares, construídos paulatinamente, os quais preceituam a dedicação exclusiva de seus servos, exigindo-lhes não manterem qualquer relacionamento conjugal. V.S. haveria de me afirmar que um padre não teria tempo para várias atribuições, o que considero equívoco, visto que a geração corrente não deve ser comparada a civilizações antigas. Estamos na era em que as pessoas conseguem atender a vários chamados simultaneamente, sem, no entanto, haver interferência entre um e outro e, sinceramente, não enxergo incompatibilidade entre exercer a função de um sacerdote e constituir família.

Não querendo contrariar as doutrinas que regem o Cristianismo, sugiro a Vossa Santidade analisar, junto aos conselhos que compõem o Vaticano, se não seria hora de rever alguns conceitos estabelecidos pelo Catolicismo, adequando-os ao nosso tempo. Em minha visão - repito - não existe qualquer empecilho para que essa mudança seja considerada. Sem querer comparar, a maioria das outras denominações religiosas permite que seus representantes possam conviver com uma mulher, ter filhos e, ainda assim, eles permanecem a serviço da Palavra de Deus, inclusive vivenciando na prática aquilo que ensinarão a seus fiéis.

É assim que me pronuncio, respeitando os preceitos que orientam a religião católica. Penso, Santo Padre, que o tema é deveras árduo, mas precisa ser discutido. Ao liberar o casamento para os sacerdotes da Igreja, o Vaticano poderia, quem sabe, estar contribuindo para que alguns escândalos vivenciados pela Instituição fossem amenizados. Padres são seres comuns, de carne e osso, ainda que tenham o dom espiritual e retórico de nortear o bom caminho a seus seguidores. Precisam ter uma esposa, filhos, uma família própria, vivendo com consciência tranqüila e necessidades satisfeitas.

Com a sua bênção,

Catolicis Matrimonus.