Nunca fui de me incluir em manifestações mais fervorosas sobre qualquer que seja a causa. Não tenho jeito para certas reações, embora respeite aqueles que as promovem - desde que demonstrem coerência na atuação. A educação brasileira, notadamente falimentar, numa dessas manifestações a que nos habituamos historicamente, testemunhou mais um episódio lamentável comum a nosso país, quatro dias atrás, no Paraná, quando professores da rede estadual foram agredidos COVARDEMENTE por um grupo de policiais usados como instrumentos de um estado truculento e sem diálogo.
Sem querer me ater aos excessos de alguns - uma porcentagem mínima à qual o governo do PR faz questão de se referir, apoiado por muitos cidadãos ditos de bem - os professores ali estavam para cobrar direitos garantidos pela Constituição Brasileira e pelas leis que a partir dela se originam. Em primeiro lugar, os PMs encontravam-se munidos de todos os equipamentos necessários para grandes confrontos. E estranhamente, porque esses mesmos PMs poderiam estar nas ruas protegendo a população dos bandidos, os quais tomam conta dia a dia de nossos bairros, amedrontando quem quer que seja. Mas não. Por ordem de um tal governador remanescente do tempo da escravidão e da ditadura militar, eles não foram intimidar os assaltantes, nem os traficantes, nem os políticos corruptos. Eles agrediram professores cuja arma é senão a própria voz em defesa de seus direitos.
Não se trata de culpar a PM, como corporação, pelos fatos ocorridos, visto que sabemos serem funcionários do Estado, a quem devem subordinação e obediência. No entanto, até a subordinação e a obediência têm limites que não precisam ser estabelecidos por dispositivo legal nenhum. Existe um limite imposto pelo caráter de humanidade, de dignidade, de coletividade, uma vez que tanto policiais quanto professores são vítimas do mesmo Estado. Ou seja, em vez de haver uma junção de forças, houve uma segregação orquestrada por detentores de um poder sujo e repugnante. Dezessete - eu disse 17 - heróis recusaram-se a compactuar com tamanha falta de respeito e, por isso, foram presos.
Esses 17 cidadãos dignos de todo o respeito e consideração - por quem tem capacidade de discernimento - devem ter-se lembrado que serão, mais cedo ou mais tarde, vítimas da mesma causa que motivou a manifestação dos mestres; devem ter-se lembrado que muitos daqueles educadores que ali estavam os ajudaram na sua formação, contribuindo inclusive para que obtivessem êxito no concurso que originou a convocação deles; devem ter-se lembrado que existiam senhores e senhores responsáveis - em meio a tantas dificuldades - por educar os filhos dos outros, até mesmo dos próprios policiais. Merecem todas as honras os 17 homens - no mais completo sentido da palavra. Não importa o que pensam os opressores e quem os apoia.
Tendemos a ficar indignados quando membros da polícia militar são mortos em confronto com os bandidos, porque morrem heróis que estão protegendo a população. Do mesmo modo, devemos demonstrar indignação pelas agressões direcionadas aos manifestantes do Paraná, pela maneira excessiva como tudo aconteceu. A ação foi ordenada pelo governador do Estado e executada pela corporação. Não me convence a história de que estavam obedecendo ordens, já que muitos funcionários deixam de obedecer determinações muito mais relevantes para o público que recebe determinado serviço. Os PMs do Paraná perderam uma grande oportunidade de juntar-se àqueles manifestantes e opor-se a quem realmente merecia. Talvez eu esteja viajando demais, querendo uma mentalidade avançada desse jeito.
Não se trata aqui de uma manifestação contra a figura do policial militar brasileiro, pois estamos abordando um fato específico, com local específico. Não cabe a generalização, que fique bem claro, já que os verdadeiros e sérios policiais - assim como os verdadeiros e sérios professores, profissionais da saúde, garis, vigias noturnos, etc. - ainda são a salvação do país.
Meu repúdio a esses atos que envergonham o Brasil diante do mundo. Meu repúdio aos que apoiam o diálogo do gás de pimenta, das balas de borracha e dos cassetetes. Aprendi a argumentar de outra maneira.
Por exemplo, amanhã, minha arma será uma camisa preta durante minhas aulas.