"Você ensina inglês no Estado? Sempre pensei que ensinasse Português."
Quantas vezes ouvi isso! Esta semana mesmo. As pessoas estranham que um ser estranho como eu ensine língua inglesa. A minha relação com os cursinhos antes de entrar para o Estado pode explicar isso também. Antes de ingressar na Escola Tristão de Barros, em 2010, eu não atuava como professor público e já ensinava na Central de Cursos. Mas era com Português e Redação.
O fato é que eu nunca daria certo como professor de Língua Portuguesa em escola regular. Há razões para isso. Como profissionais, precisamos avaliar o tempo todo o terreno onde pisamos melhor, sem traumas para nós e para quem receberá nossos serviços. Apesar de ter mais turmas com língua inglesa, o número de aulas - e de conteúdos - para um professor de Português é algo fora de propósito. Ele precisa dar conta da área gramatical (importante sempre em qualquer língua), produção textual e literatura - segmento pouco valorizado mas fundamental na aquisição de conhecimentos das linguagens. Isso não é fácil. Não me sentiria competente o suficiente.
De maneira inversa, eu tenho a impressão de que também nunca seria rofessor de inglês em cursinhos preparatórios. Não diremos aqui que lecionar Inglês seja uma tarefa simples. Muito pelo contrário, mesmo porque os alunos crescem ouvindo que essa língua estrangeira é dificílima (o que não constitui total verdade) e já iniciam seus estudos para essa disciplina com o pensamento de que não aprenderão suficientemente o idioma. Ocorre também de a disciplina ser historicamente desqualificada visto que em outros tempos, ensiná-la era sinônimo de completar carga horária para professores de outras áreas, que - então - não podiam ser cobrados por aquilo para o qual não foram formados. Esses detalhes também tornam árdua, muitas vezes, o trabalho do profissional de língua estrangeira moderna. Mas na escola onde trabalho, acho que no decorrer do tempo eu estou encontrando maneiras de fazer um trabalho razoável. Nunca encontrarei a fórmula ideal, porque ela simplesmente inexiste. Mas me sinto bem assim.
Então - se devo ser apenas razoável ensinando Língua Inglesa - eu seria ainda pior ensinando Língua Portuguesa no ensino fundamental ou médio. Isso requer habilidades e principalmente criatividade com as quais não fui contemplado e, contraditoriamente, soa-me mais à vontade atuar com língua inglesa, ainda que eu tenha que me esforçar muito para fazer os alunos entenderem a sua importância. Em cursinhos preparatórios - de modo oposto - sinto-me espetacularmente privilegiado por trabalho com português e principalmente com produção textual. Ou seja, não basta conhecer determinada área; é preciso, sobretudo, conhecermos as próprias afinidades, a fim de não causarmos prejuízos a quem depende de nosso trabalho.
Só isso!
Cassildo Souza - professor de Língua Inglesa pela SEEC/RN (fundamental e médio, Escola Estadual "Tristão de Barros", Currais Novos-RN) e professor de Língua Portuguesa/Redação, da Central de Cursos - Currais Novos-RN e J&K Cursos - Acari-RN.