Cassildo Souza
Dia Primeiro
de Maio de 2016. Estou, neste exato momento, trabalhando. E o que poderia ser causa para reclamação é motivo
de realização e orgulho para mim, haja vista exatamente agora haver milhões de
brasileiros que gostariam de ter um labor que os completassem espiritual,
humana e materialmente. É o dia do Trabalho. O dia em que se deveria poder
comemorar bem mais conquistas do que as que até agora foram alcançadas pelos
cidadãos desta terra, onde tudo é difícil para quem de fato a constrói desde antes
de 1500. Temos o dia do Trabalho, mas quando é que teremos – de fato – O Dia do
Trabalhador?
O país não
para. Ainda que em meio a múltiplas crises que nos tomam há pelo menos 3 anos, alguns
“privilegiados” (por terem trabalho) encontram-se agora ajudando a reconstruir
uma nação que todos os dias (desde seu início) é destruída pela corrupção,
pelos interesses individuais, pela falta de coletividade. Todo dia é dia de trabalho:
é dia de pegar metrô às 4 da manhã para se chegar depois das 10 horas da noite;
é dia de entrar em túneis, arriscando a vida, para retirar minério; é dia de tentar
conter as filas dos hospitais e casas de saúde, com atendimento a quem precisa;
todo dia é dia de entrar na sala de aula, com esperança de mudar um país, e ‘enfrentar’
alunos de todos os segmentos, classes sociais e problemas imagináveis; é dia de
pegar a estrada conduzindo passageiros que também vão trabalhar; é dia de
correr atrás de bandido, para proteger a população trabalhadora; é dia de
apagar um incêndio ou de salvar a vida de uma mãe e seu bebê, para que este
possa no futuro trabalhar; é dia de editar notícias do jornal de logo mais ou
de se corresponder jornalisticamente no meio de um fogo cruzado que atinge mais
trabalhadores do que outras classes; todo dia é dia de fixar paralelepípedo nas
ruas, no meio do sol, gastando a coluna, para que o tráfego seja facilitador do
trabalho; todo dia é dia de abrir o comércio para servir a trabalhadores e para
sobreviver desse trabalho, sempre com o risco de levarem todo o dinheiro do
caixa, sob a ameaça de uma arma na cabeça, apontada por quem não trabalha.
Reiterando, é dia de trabalho. Quase nunca é dia do trabalhador.
Sonho (mas sou
realista) com o que dia em que exaltaremos não apenas o trabalho, mas também o
trabalhador. Isso chega a ser confuso, pois exaltar o trabalho em tese
estende-se a elevar o trabalhador, por ser ele o seu protagonista. Em essência,
é assim, mas não nos esqueçamos de onde nos situamos. Estamos num país
espetacular, que têm muitos atrativos, muitas coisas belíssimas e muita gente
boa – inclusive e principalmente os trabalhadores. Mas também temos pessoas –
no povo e no poder – que não respeitam os direitos, as individualidades, as
habilidades e a competência de quem executa determinada função. Parecemos viver
em torno do trabalho, como se este se constituísse sozinho, independentemente
da força laboral de um ser humano. Este ser humano – a máquina mais legítima e
eficiente que existe – se torna ainda mais humano ao realizar o trabalho mental
ou físico. É ele quem decide a qualidade e a eficiência que esse labor terá.
Viva o Dia do Trabalhador.
Dia de
reflexão, dia de comemoração, por que não, mas dia principalmente de pensarmos
em revolução. No mais positivo sentido da palavra. Revolução no pensamento, na
mentalidade, na não submissão. Revolução para se ter respeito ao Trabalhador.
Para se deixar de considerá-lo apenas um mecanismo de obtenção (e a acumulação)
de riquezas. Revolução para saber cobrar direitos, mas ao mesmo tempo pelo cumprimento
dos deveres, pelo valor moral, por ser essa a atitude digna de quem quer ver
seu lugar.
Revolução em
busca da unificação entre o Dia do Trabalho e o Dia do Trabalhador. Bom trabalho a todos. Não só hoje. Mas todos os
dias.