A
humanidade se alimenta de muitos valores. Muitas ideologias. Às vezes
toscas, às vezes necessárias para a continuidade da espécie humana.
Coisas dispensáveis para uns constituem obrigatoriedade para outros. E
esse contraste parece ser o que temos de mais interessante, mesmo agora
num mundo sem graça, violento, hipócrita, mas ainda assim – e por isso
mesmo – humano. Fazer retrospectivas, projeções ou promessas compõe um
desses aspectos – digamos – “bestial”, sem importância, desnecessário;
ou então, indispensável, crucial, fundamental. Estou do lado de cá,
posto que ainda não me transformei em uma máquina programada para agir.
O tempo é imensurável em si, mas, estabelecidas as medidas para sua
contagem, costumamos prestar contas a nós mesmos a cada período de um
ano, muitas vezes mobilizados pela tradição das comemorações (não caberá
aqui tratar das razões comerciais subjacentes). O ano de 2016 foi
sabidamente complexo não apenas para alguns indivíduos; foi difícil para
o país e o para o mundo. Foi estranho, mórbido. Mas é impossível sair
de um intervalo de tempo dessa categoria apenas com realizações
negativas. Certamente foi um ano de produtividade para muita gente:
muitos ganharam um emprego, um amor, um filho; outros concluíram sua
casa, sua faculdade, iniciaram seu empreendimento. Muitos se motivaram a
buscar certas conquistas. Comigo não foi diferente. Houve momentos
positivos e negativos, sendo que os primeiros ainda superam os
posteriores.
Talvez tenha sido o ano de maior questionamento
sobre meu trabalho, o que entendi como um sinal de que as pessoas me
cobram por aquilo que eu possa representar. Não sou mais um iniciante,
então a tendência é que esperem mais de mim agora do que em períodos
antecedentes. Contraditoriamente, eu produzi mais do que em qualquer
outro ano. Busquei mais e melhores formas, tentei adequar-se aos
contextos a que me expus. O que poderia ser visto negativamente, então,
acaba se incorporando à parte positiva, já que incentiva e encoraja a
variarmos os modos como atuamos. Independentemente dos questionamentos,
concluímos nossa vertente profissional de modo sereno e responsável,
cientes das falhas e de algumas eventuais qualidades.
No âmbito pessoal também não posso reclamar muito. É claro que ser pai à primeira vez estava nos meus planos. Isso quase aconteceu. Poderia ter-me abalado mais do que me abalei, mas as coisas têm seu próprio curso e não podemos ficar lamentando-as eternamente. Isso certamente ocorreu com vários outros indivíduos pelo país, porque são eventos que acontecem diariamente. Temos que agradecer sempre os fatos que nos são atribuídos, simplesmente porque nunca haverá perfeição em nossas vidas. Houve equívocos, os quais podem ser corrigidos para 2017. Só vivemos quando aprendemos com as negatividades.
O balanço é positivo, em meu
entender. Porém, sempre existem desejos a se expressar. Coletivamente,
eu desejo um ano de menos brigas ideológicas e mais debate maduro sobre a
situação do país; menos arrogância e mais serenidade; mais brio, mais
coragem, mais vontade; mais humildade para se admitir os erros e mais
humildade para perdoá-los; mais trabalho, mais atitude e menos
hipocrisia; mais consciência e conhecimento na hora de escolhermos os
representantes; menos militância simbólica e mais concretude naquilo em
que se acredita; mais humanidade e menos robotização.
Agradeço
pelo ano que ora se encerra. Estamos de pé, e o mais importante,
acreditamos ainda nas melhorias, embora conscientes da situação.
Agradeço pelas realizações e pelo aprendizado que 12 meses
inevitavelmente nos trazem.
Apesar de tudo, “Vejo a vida melhor
no futuro”, porque é esse otimismo (não forçado) que nos move a
continuar buscando crescer sempre.
Que 2017 não seja apenas uma
inspiração para se dedicar aqueles desejos clichês como “Feliz Ano
Novo”, “Ano Bom”, “Venturoso Ano Novo”. Que seja, de fato, um período de
conquistas, de sensibilidade, de gratidão e de muito amor, não o amor
das redes sociais, mas o que emana do interior de todos nós.