O tema é repetido, mas o texto é novo. E essa reflexão não pode deixar de existir, se desejamos algum dia que alunos de escolas públicas atinjam um nível de qualidade ao se submeterem à prova do ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO. O fato é que o aprendizado obtido nos níveis básicos da rede pública - o ensino fundamental - tem sido colocado à prova e, então, questionado, quando analisamos os resultados a cada ano. Há uma discrepância extrema entre os conhecimentos exigidos na prova (a qual se apresenta bem elaborada, no todo, embora com um número exagerado de questões) e a capacidade de se responder satisfatoriamente às propostas lançadas no Exame. Um desafio que já deveria ter começado a ser superado pelos autores das políticas educacionais.
É sabido amplamente pela sociedade brasileira que aos alunos de escolas públicas são dadas oportunidades de se inscreverem pela política de cotas raciais e/ou sociais, além de outros incentivos como acréscimo no argumento final do candidato, com base em algumas particularidades. O governo federal, atestando sua incapacidade de oferecer um ensino com qualidade digna, criou esses dispositivos no sentido de amenizar o resultado ainda mais catastrófico que poderia existir para os estudantes que participam do ENEM. Infelizmente, nem assim - em muitos casos - os resultados parecem animadores. A cada edição da prova, fica evidente o hiato gigantesco entre aquilo que se pretende (ou que se aparenta pretender) e o que acontece de fato com candidatos de escolas públicas.
Sabemos que o problema da educação não será resolvido do dia para noite. Ainda que houvesse interesse de nossos representantes, levar-se-ia tempo. Mas o fato é que a trajetória escolar do aluno, desde as primeiras experiências estudantis até o momento de enfrentar esse tipo de seleção (não apenas o ENEM, mas outros exames e concursos públicos) ainda tem acontecido de maneira ultrapassada na escola e fora dela. Teimamos em priorizar a memorização pura e simples; teimamos - pais e professores - em só incentivá-los nos últimos momentos de sua escolarização básica; teimamos em dizer que eles são muito novos e, portanto, poderão esperar. Teimamos - novamente pais e professores - em não estabelecermos para eles uma rotina de estudo a longo prazo. Esses fatores - somados ao atraso histórico que nossa educação apresenta - acabam interferindo decisivamente na nota que será utilizada para ingresso ao ensino superior.
Está na hora de alunos, pais, professores, pedagogos reconhecerem essas falhas e, em conjunto, começarem a montar estratégias de aprendizado eficazes. Sem muito discurso e mais prática. Mais compromisso, mais reflexão, mais execução, mais atitude. Está na hora de, na sala de aula, deixarmos nossas frustrações de desvalorizados e fazermos o nosso papel, se afinal ali estamos. Isso também nos credenciará a certas cobranças mais futuramente. Está no momento de os alunos entenderem que um ano de preparação (na escola ou em cursinhos preparatórios) sem uma base formada, mínima que seja, não lhes garantirá um bom resultado. O ensino é contínuo e a longo prazo. Está mais do que no momento de compreender que as cotas ou outros incentivos não farão milagres de aprovação para os originários da rede pública. Mudança total nos moldes da preparação ao ENEM. E preparação começa desde cedo, nos primeiros momentos da educação doméstica ou sistematizada. Ao Estado, cabe substituir gradativamente a sua veia marqueteira embutida nas cotas por políticas sérias, que possibilitem aos jovens de todo o país uma estrutura educacional firme, valorizando os docentes, mas cobrando deles o compromisso necessário a um bom processo de ensino-aprendizagem.
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