Por que não praticar
redação, mesmo em preparação ao ENEM?
Cassildo Souza
Pelos
propósitos a que procura atender, a prática de produção textual escrita
promovida pelos cursos preparatórios ao ENEM deveria receber mais adesões dos
alunos, a cada edição, posto que o embasamento adquirido ao longo da preparação
constituiriam a motivação para escrever esses textos. Não é o que se observa nas
muitas instituições que atuam nesse segmento. Por mais que se ofereça esse
suporte nas mais variadas formas, muitos alunos ainda insistem em ignorar essa
importante etapa da preparação. Os resultados ao final do ano tendem a castigar
drasticamente esses indivíduos.
Os
números da estatística nacional para a redação do Exame Nacional do Ensino
Médio são assustadores. Apenas 0,9% de todos os alunos que fizeram a prova em
2013 obteve nota igual ou superior a 901 pontos. Quando se consideram os alunos
que obtiveram uma nota na faixa de 701 a 1000 pontos, intervalo que pode
colocar os candidatos em cursos mais qualificados, o percentual vai a apenas
10,3%. Juntando-se a esse dado o fato notório de que os alunos brasileiros mal
leem e menos ainda escrevem, podemos entender que as coisas se encaixam. Os
alunos em cursinho preparatório – o qual deveria ser encarado com uma revisão
de assuntos pontuais – já vêm desmotivados desde sua formação básica, na qual
muitos não são estimulados a desenvolver tal competência.
O
fato é intrigante, pois se não existe uma política educacional séria que
incentive os alunos a praticarem leitura e escrita, tomando a primeira como
base essencial para a segunda, então pelo menos deveria haver um interesse para
tentar diminuir essa deficiência histórica da maioria dos alunos brasileiros, que
– parecendo imitar as autoridades do país – muitas vezes tratam com descaso os
aspectos ligados à aquisição do conhecimento. Não é fácil convencê-los de que,
não havendo exercício diário, não se chegará a lugar algum. Razoável é, também, enfatizar que esse
“esnobe” se estende a outros pilares das Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, como Literatura, por
exemplo, essencial para o entendimento de mundo e que normalmente é preterida
por grande parte dos vestibulandos.
O
paradoxo desses fatos é que grande parte dessa clientela almeja cursos extremamente
concorridos: engenharias, arquitetura, odontologia, direito, enfermagem e até
medicina; além disso, esquecem-se de que geralmente os pesos das universidades
para a redação é maior do que 1. Uma boa redação é tudo que se precisa produzir
para estar na lista dos possíveis aprovados nesses cursos. Um bom texto,
contudo, não virá somente com o querer sem ação, sem prática, sem base na
leitura geral que o ENEM tem exigido de seus candidatos a cada ano.
Entende-se
que o modelo de educação brasileira é ultrapassado desde seu início; é sabido,
ainda, que as escolas em geral não oferecem suporte ideal para que as leituras
(em suas diversas formas, verbais ou não verbais) sejam priorizadas e
realizadas com satisfação e qualidade. Entretanto, não se concebe mais ter
esses “fenômenos” como justificativa para não se buscar suprir essas lacunas, não
preenchidas ao longo da trajetória escolar básica. Não se conserta um equívoco
com outro. Se há um objetivo a ser alcançado, nesse caso o ingresso à
universidade via ENEM, a redação – como todas as outras áreas – será decisiva
nesse processo. Não existe um meio que a exclua do processo. Sem ela, sim, o
candidato é que se exclui do processo.
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