Tenho observado ultimamente - pelo menos nos ambientes em que atuo e convivo - uma preocupação muito grande de alunos concluintes do ensino médio que se preparam para o ENEM: a produção textual. Nessa fase escolar, é comum os alunos ficarem tensos com as incertezas em relação ao seu desempenho nessa área que tem decidido as vagas para as universidades do Brasil. Teoricamente é um bom sinal. Teoricamente, porque nem sempre esse tipo de atitude representa uma continuidade dos estudos básicos de tais alunos. A produção textual não é um assunto para ser tratado no final do ensino médio; deve ser um processo contínuo desde os primeiros anos de escola.
Entendo que nem deveria tratar dessa temática, por parecer óbvio que leitura e escrita devam ser pilares dos estudos de qualquer aluno. Acontece que os fatos nos trazem uma realidade bem diferente. Como o nosso ensino geral é cheio de problemas e demoramos a evoluir, uma das competências que nossos jovens deixam de adquirir durante o período escolar é a produção de textos dos mais diversos gêneros; um desmando por parte dos que dizem promover a educação, desde as autoridades máximas do país a profissionais que não fazem jus a suas obrigações. O aluno passa as fases escolares sem exercitar essa capacidade, a qual será necessária não apenas na hora de fazer a prova do ENEM, mas em toda a sua vida profissional.
Não acredito numa proposta de ensino que desmereça ou deixe de prestigiar a prática escrita. E nisso fica subentendida leitura, primeiro embasamento para qualquer produção. Uma coisa nunca estará alheia à outra, mas para isso é preciso que as instituições escolares - amparadas e aparelhadas pelo Estado - reúna condições de preparar os seus docentes para, com competência e destreza, oferecer a seus discentes a possibilidade de praticarem desde cedo a construção textual. Ainda que seja incipiente o apoio dispensado pelos órgãos de educação, nada impede que os profissionais de ensino olhem com cuidado a relevância indiscutível desse incentivo para que alunos desenvolvam capacidade linguística, gramatical e crítica. Isso não se limita ao ENEM.
O que é essencial é - também - óbvio. Não dá para conceber que as escolas, os professores, os alunos vejam importância na produção textual apenas no último ano do ensino médio. É o mesmo que esperar que o país mude radicalmente da água para o vinho, sendo que temos mazelas acumuladas de 515 anos. É preciso haver compromisso especialmente dos professores ligados a área das Linguagens, com seu trabalho diário, contínuo e árduo, sim! É necessário que os pais cobrem para seus filhos atividades que incentivem a prática de leitura e escrita, já no ensino fundamental menor, porque só assim será possível atenuar as falhas apresentadas em exames que medem o nível de interpretação e compreensão textuais, por sinal, pífios.