Eu - mal iniciou o ano letivo - fiquei pensando
nesta primeira semana onde eu estaria caso não estivesse numa escola, ao lado
dos vários colegas, recebendo os alunos novos e veteranos, testemunhando a
movimentação habitual de um ambiente que me convida insistentemente até mesmo
nas férias. Estaria numa sala trancada, burocratizando algum documento? Estaria
gerenciando alguma loja de eletrodomésticos ou de confecções projetando e
tentando atingir metas? Num banco, contando cédulas? Na praça de táxi ou de mototáxi
transportando a população? Construindo casas?
Não sei.Fiquei matutando sobre isso e me bateu uma sensação
estranha: uma sensação de pensar que nenhuma daquelas funções alheias a que eu
ocupo combina com minhas habilidades. É como se eu - por algum motivo
indefinido - deixando de ser professor, ficasse sem ter o que fazer, vagando em
busca de uma função apenas para sobreviver materialmente. Sim, "apenas
materialmente", porque como professor eu não trabalho somente para
sobreviver materialmente. Eu atuo para sobreviver espiritualmente, ainda que
por muitas vezes eu tenha questionado meu próprio desempenho para tal missão.
faz parte do pacote.
Evidentemente, eu não encontrei a resposta. Simplesmente
porque não preciso encontrar a resposta. A que interessa saber o que eu seria,
se eu já sou o que eu sempre quis ser? Quantas vezes não recebi conselhos para
mudar de profissão, para "sair dessa vida", como se estar em sala de
aula fosse equivalente a estar cometendo um crime semelhante ao narcotráfico.
Coisas da sociedade hipócrita brasileira. "Você é muito inteligente,
procure outra coisa". "Seu potencial é tão grande, você tem certeza
que quer isso para você?" E outras frases que, não sendo levadas em
consideração, confirmam a minha sina - no melhor sentido da palavra - para
conviver constantemente com alunos de quase todas as idades: dos 10, 11 anos
até a idade adulta, em turmas para concursos.
Problemas. Estresses. Broncas. Qual profissão não os tem? Mas
o fato é que todos os anos tenho podido analisar o processo por completo e
verificar um saldo espetacularmente positivo que me confirma - à beira dos 37
anos - ter feito a escolha adequada. Os ambientes da escola, ainda mais sendo a EETB - Escola Estadual Tristão de Barros, atraem-me,
chamam-me a continuar lá, ensinando, aprendendo, convivendo, atingindo
objetivos e tentando explicar outros não alcançados. Isto é a minha cara, meu
significado. O resto é especulação!
Eu sou um cara feliz!
Cassildo Gomes Rodrigues de Souza
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