Há mais de um ano, vivemos uma mudança extremamente radical na nossa rotina, na nossa saúde física e mental e nos modos de agirmos no dia a dia. Embora muitas pessoas ainda se considerem imunes e inalcançáveis pela Covid-19, o fato é que a maioria dos cidadãos do mundo que ainda possuem bom senso têm ciência da gravíssima situação em que nos encontramos. Aqui no Brasil, adicionalmente a todos esses problemas, surge a falta de empatia, compreensão e sensatez para com as situações do outro. Uns brigam pelo direito à sobrevivência econômica - o que é justo e legítimo, ainda mais num país com seriíssimos problemas nessa área; outros exigem - com o direito que lhes é assegurado - que a saúde, o bem-estar e a vida devem ser prioridade. Temos que ter vencedor nessa disputa?
O que me espanta não é a luta de ambos os polos por aquilo que lhes cabe; assusta-me é a a ideia de exclusão que pregamos sempre que defendemos uma situação. Não nos damos conta de que a luta para colocar comida na mesa não pode excluir a luta para prevenir a contaminação e/ou morte de pessoas que, segundo os dados oficiais, já ultrapassaram 3 centenas de milhares há alguns dias. Não consideramos, por outro lado, que - apesar de o vírus estar circulando em escala e variantes não previstas - indivíduos das faixas mais carentes em nosso país estão perdendo os seus empregos e sem saberem o que fazer, tornando complexo o que já era problemático.
O fato é que - excetuando-se os negacionistas, a classe política geral e os cidadãos que continuam arrogantes num período de tantas perdas - ambos os extremos têm a sua razão e ao mesmo deixam de tê-la: têm razão de defenderem suas pautas, mas a deixam escapar no momento em que desconsidera o direito da pauta de seu semelhante. E quando isso acontece, o que seria mais prudente para que ambos tivessem os seus direitos respeitados legitimamente? A resposta é bem óbvia: deveríamos ter, de maneira genérica, políticos responsáveis que não fizessem de um problema tão sério como a pandemia o seu palanque em época indevida; deveríamos ter um representante que conduzisse os outros, uma Corte que não tornasse tão confusa a relação entre municípios, estados e federação, além de pessoas que ouvissem mais e falassem menos, a fim de promover o tal "bem comum". Todos precisam ter as suas lutas respeitadas. A condução para amenizar esse impasse ainda não veio, mas não é deixando de compreender o problema alheio que resolveremos o problema de todos.
É preciso, então, a compreensão de que tudo afeta a todos. É preciso, além de tudo, que os representantes eleitos tomem vergonha e parem de discutir por coisas inúteis, como se estivessem numa briga de criança. Mas é preciso também cobrar, discutir, movimentar uma posição que amenize os impactos econômicos gerados pela redução de recursos financeiros, sem nos esquecer do alto número de pessoas que perdem a vida diariamente nesta fase da pandemia. É preciso uma união nunca vista antes no país, deixando de lado - ainda que temporariamente - o ego político-partidário, o fanatismo e a inoperância do Poder Público. Resumindo: é uma situação complexa, se considerarmos o histórico do país. A questão é que essa doença não escolhe condição financeira, status social ou características pessoais. O vírus sai cortando como "faca na manteiga" e a nós caberá buscar nas instâncias cabíveis o equilíbrio.
Boa sorte para nós.
Cassildo Souza.