Quem é meu aluno sabe o quanto defendo a área de Língua Portuguesa, assim como também o fazem ou fizeram Cloacir, Aparecida, Elba, Théo, Lucilene, Eva, Engrácia, Zé Ivan, entre outros. Chego até a ser chato, querendo, forçosamente, que os alunos assistam às minhas aulas, as quais são, para muitos, monótonas e sem graça. Até aí, tudo bem. Não vou mais querer mudar o mundo. Isso é um fenômeno interessante, mas real. Agora, o que dizer de quando essa atitude de indiferença parte das próprias escolas ou cursos preparatórios?
Uma semana dessas, um aluno perguntou por que motivo não havia muitos aulões de Língua Portuguesa. Por que a matéria de Redação nunca estava incluída em cronogramas dessa natureza. Eu achei extremamente positiva a preocupação, pois aí ficou evidente a capacidade de vislumbrar a disciplina como fundamental na composição do processo de ingresso à universidade. Mas, sinceramente, fiquei sem resposta.
Esse questionamento me fez refletir ainda muito mais sobre o fato de as instituições de ensino atribuírem um "status" diferenciado a áreas como Física, Química, Biologia e Matemática (que, por justiça, devem ser trabalhadas ao extremo). É sempre assim, a área de Humanas, composta por História, Geografia, Português e Inglês é tratada como se fosse acessória e, para equívoco dos que assim pensam, constitui importante componente para o desempenho geral dos candidatos. Quantos já não foram reprovados por darem importância menor do que deveriam a essas disciplinas! Mas não aprendem e continuam a trabalhar aquilo que é mais propício ao aluno receber.
Essas situações acontecem para percebermos, enquanto professores, que os menos culpados por não gostarem desta ou daquela matéria são os alunos. Se o próprio estabelecimento onde estudam ou se preparam para o Vestibular encaram a matéria de Redação como algo sem importância, para os estudantes seria incoerente uma dedicação maior nesse quesito, já que precisam enfrentar conteúdos das outras disciplinas. A conscientização não é uma coisa automática, implica atitude das pessoas que são, teoricamente, condutoras do processo de ensino e aprendizagem e por isso mais sensatas. Essa sensatez, infelizmente, não tem sido praticada.
Digo isso com uma certa tristeza e com uma convicção de que não posso parar de reclamar, de dar o devido mérito a determinadas coisas. Para os que pensam ser os "entendidos" de tudo que se refere à educação, eu tenho um recado: nada dá certo no ensino, quando se coloca o aspecto financeiro antes de qualquer coisa. É preciso consciência de que, na era da informação, quem não estiver preparado para comunicar-se será engolido pela selvageria da competição e, depois, poderá ser muito tarde para a reversão. Sonho com o dia em que as escolas, pré-vestibulares, cursos técnicos e até mesmo as universidades passem a enxergar a habilidade de interpretar o que se lê e de se fazer interpretar bem como uma condição para tornar-se um profissional competente.
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