1 de fev. de 2012

O RECOMEÇO É CRUCIAL NA APRENDIZAGEM


Cassildo Souza

O que acontece se a pessoa não atinge o exigido num exame de habilitação? É reprovado e tem de fazê-lo novamente, pois teoricamente ainda não aprendeu, e aquilo que não ficou claro precisa ser corrigido. É assim em quase tudo no Brasil. Na escola, porém, o aluno tem avançado em seus níveis, ainda sem ter apreendido o mínimo do conhecimento que dele se espera. Tudo porque os esforços são cada vez mais intensos no sentido de evitar que alunos sejam reprovados.

Meu raciocínio pode ser um tanto retrógrado em relação às “belezas educacionais” que se pregam por aí. Alguns dirão que em países desenvolvidos a reprovação não existe, mas sim um processo contínuo de recuperação. Aviso-lhes que já pensei em tudo isso. O fato é que os professores, os quais estão diariamente na sala de aula, sabem que a coisa não funciona bem dessa maneira. Como a reprovação dificilmente existirá, o aluno que não se empenha durante um período letivo, passa de um estágio a outro mesmo sem atingir satisfatoriamente o aprendizado. E isso se vai acumulando ao longo dos anos, incidindo na chegada aos níveis mais altos.

Num debate qualquer, não seria ingênuo de citar este fator como exclusivo para o problema da falta de interesse nos alunos brasileiros. Escolho tal temática porque acho muito simplista e inocente (muito mais do que eu seria) eliminar a possibilidade de recomeçar um processo que poderia ser melhorado; se determinado tema de uma série escolar não foi corretamente transmitido – por fatores que não cabe aqui destacar – não nos enganemos, pois nas séries seguintes, dificilmente haverá reversão. Consideremos uma criança que não aprendeu as quatro operações nos graus iniciais, mas cuja escola permitiu a sua evolução para os demais graus: provavelmente, este aluno terá dificuldades em matemática no futuro. É o que normalmente ocorre, ficando a disciplina como vilã para a maioria das pessoas.

O exemplo anterior é apenas ilustrativo e aplica-se preferencialmente à realidade brasileira. Poderia eu ter abordado o conhecimento de linguagens; crianças que não aprendem a escrever e que passam de uma série a outra apenas para alimentar um pensamento “moderno” de que a reprovação faz mal chegarão ao ensino médio sem conseguir redigir um texto simples e continuarão a apresentar essa dificuldade no ensino superior, caso o conquistem. Neste caso, não podemos garantir se mantê-lo naquela série constituiria algo negativo; no entanto, já sabemos que o contrário se confirma: o que não foi apreendido na primeira série do ensino médio, por exemplo, implicará em muitos problemas no ano posterior. Palavra de quem está inserido nesse contexto.

Evidentemente que fundamental é o país investir em educação de qualidade para que não somente este, mas outros problemas, sejam amenizados. Tornar a educação um bem essencial, conscientizar as famílias e as instituições escolares dessa relevância são ações urgentes. Entretanto, precisamos discutir, sim, a reprovação. É premente que analisemos casos específicos. Pode ser que em determinada situação ela seja extremamente negativa; mas também pode ser encarada como uma forma de fazer o aluno recomeçar um processo que não ficou bem realizado. Não defendo extremismo nem de um lado, nem de outro. A questão merece ser debatida, como tudo que se liga à educação.

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