Deixo
claro que – apesar de ser professor – minha área não é tecnicamente a
Pedagogia. No entanto, a minha formação humanística (Letras) e a minha atuação
diária não me permitem calar sobre
questões educacionais, especialmente por entender que o laço teoria-prática
precisa ser buscado o tempo todo. É nessa vertente que pretendo abordar um
assunto que nos rodeia corriqueiramente, a atribuição de números para avaliar
nossos alunos. Afinal, o que precisa ser feito para se alcançar a nota 10,0, o
nível máximo de uma tarefa? Pode-se sair distribuindo notas sem critério,
apenas para agradar o aluno?
A
nossa responsabilidade é grande, especialmente quando temos de pontuar uma
atividade que aplicamos. Se o sistema estabelece uma nota quantitativa como
parâmetro para se avançar aos estágios seguintes, não podemos avaliar o
rendimento a toda maneira ou sem a noção correta do que significa aquela nota.
Um aluno que atinge – por exemplo – 8,0 está alcançando 80% de aproveitamento
sobre determinada atividade, o que corresponderia, simplesmente, a realizar
plenamente 4 tarefas a cada 5 orientadas. Convenhamos, é um aproveitamento
muito bom e nem possível de se conseguir. Ou seja, para estar num nível desses,
é preciso trabalho, raciocínio, cumprimento dos desafios propostos.
O
fato é que temos presenciado ou tido conhecimento sobre alunos que apresentam
notas acima desse patamar no ensino fundamental e, no entanto, ao chegarem para
cursar o ensino médio, demonstram dificuldades para habilidades fundamentais,
como escrever, interpretar e fazer
correlações simples. Há muitas situações em que o histórico escolar diverge – e
muito – daquilo que o discente tem apreendido durante a trajetória do ensino
básico. Todos os dias, em minha sala de aula, especialmente alunos da primeira
série reclamam que antes suas notas eram acima de 9,0 e que mal conseguem, no
período atual, chegar acima de 6,0. Cabe-nos uma pergunta: estamos atribuindo
devidamente as notas de nossas crianças e adolescentes? Será que nosso rigor
não está abaixo da crítica?
Se
é fácil atingir um grau 9, podemos ver três possibilidades aí: primeiro, os
estudantes entendem e realizam tudo quase perfeitamente; segundo, os trabalhos
indicados para ele estão num nível abaixo do que podem oferecer; terceiro, a
nota sugerida está acima do grau de cumprimento dos desafios aplicados. O
compromisso com a fidelidade das informações também é de competência do
professor. Se a primeira possibilidade ocorre – é o que deveria – tudo está
bem, e aí não haverá prejuízos ou tanta dificuldade em níveis subsequentes;
caso a segunda opção seja o motivo de uma nota maior, isso pode ser corrigido
depois, já que se trata de uma avaliação, e isso inclui professores e alunos em
primeira instância; mas se o terceiro tópico é a razão (e é o que mais ocorre,
de fato), estamos oferecendo avaliações imprecisas, equivocadas e dizendo a
nossos alunos que eles conquistaram um nível ao qual ainda não estavam
preparados.
Nota
10,0 é a porcentagem completa; deve ser o reflexo da realização plena de
tarefas propostas em todos os seus aspectos, inclusive os qualitativos, ainda
que seja uma representação numérica. Não nos cabe atribuir notas
aleatoriamente, porque o sistema não permite a continuidade aleatoriamente, há
um limite mínimo de aproveitamento, seja 6,0 ou 7,0. Essa temática, em minha
visão, deveria ser melhor debatida, para que os profissionais docentes pudessem
representar fidedignamente aquilo que eles conseguem repassar a sua clientela,
bem como o nível de apreensão desses discentes, sob pena de sermos
responsabilizados por atribuirmos um conceito que não condiz com a realidade
escolar.
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