20 de mai. de 2013

UM (INDIGNADO) DESENCANTO PELO MUNDO


Segurei-me demais para não escrever nada desse tipo, com cara de pessimismo. É que ultimamente tenho feito algumas reflexões sobre o momento atual do mundo. Normalmente eu falaria apenas sobre o Brasil; costumamos colocá-lo como o centro de tudo o quanto acontece de ruim porque, na verdade, nosso país às vezes parece uma piada sem graça. Mas o fato é que o mundo todo está em crise. E uma crise provocada por nós, por nossas atitudes (ou a falta delas), por nosso egoísmo, por nosso senso de superioridade, quando somos apenas alguns seres perdidos num planeta pequeno para tanta gente.

Incomoda muito o fato de as pessoas terem posto o dinheiro como prioridade em suas vidas e de quererem - a todo custo - convencer os outros sobre tal questão. Isso sempre existiu, mas hoje a escala tem níveis imensuráveis. Parece não mais haver coisas interessantes para se fazer, amigos com quem se compartilhem bons momentos ou a realização de projetos pessoais, que completem o ser humano. Tudo gira em torno do capitalismo, que dizem estar agonizando, mas - por outro lado - tem-se inovado para seduzir  muitas pessoas, através de formas miraculosas de se ganhar dinheiro sem trabalhar, sem produzir. É preciso termos  o mínimo de bom senso para sabermos que isso uma hora acabará mal. Cada é livre para fazer o que acha mais conveniente, não há problemas em enriquecer. A questão é fazer disso um objetivo único, fútil e banal, esquecendo-se de todas as outras possibilidades que a vida nos oferece, como apreciar a natureza, os filhos, a arte, o lazer, coisas que se deveriam concretizar através desse mesmo dinheiro. Porém, as possibilidades de viver tais aspectos praticamente inexiste, já que a busca incessante pelos altos rendimentos não deixa tempo para mais nada. É um paradoxo. Colapso geral.

Se esse fosse o grande problema do mundo, teríamos a iminência de uma mudança positiva. Além de tudo (ou quase) tudo dar destaque às finanças, vivemos sob uma pressão eterna, já que nossos problemas sociais aumentam em escala geométrica. Não temos mais respeito ao homem em sua totalidade. Pagamos uma imensidão de tributos mensalmente (trabalhamos 12 meses para ganharmos 7,5, os outros 4 meses e meio servem para quitar tais impostos), tiram-nos tudo quanto é de obrigações, mas não temos o retorno em serviços essenciais. Infelizmente isso deixou de ser uma particularidade do Brasil para tornar-se prática normal em países ditos desenvolvidos. Não temos hospitais, não temos escolas à altura que uma pessoa digna merece, não temos sistemas previdenciários seguros, nem aqui nem em quase nenhum outro lugar, a ponto de nos habituarmos a viver sempre no limite de nossas possibilidades. As cidades são conglomerados de pessoas, que mais se assemelham a formigas tontas, procurando transportar seu alimento para um lugar seguro, se é que ainda existe nesse planeta. Uma confusão total. Foi nisso que nosso planeta azul se transformou ao longo de pequena trajetória em relação à história do universo. Somos tão novos aqui e tanta bobagem já fizemos!

Como parte integrante ou como efeito direto de outros problemas, a insegurança urbana passou a vigorar com tanta força, que mesmo em cidades menores não se sabe o que vai acontecer ao sair para trabalhar. Virou normal a prática do assaltos, cujas armas utilizadas encontram facilidade inexplicável para chegarem às mãos dos bandidos. Pergunta-se pela polícia: em parte, não temos uma segurança preparada (além de muitos desvios de função, como ocorre nas áreas de saúde e educação), mas também a Justiça, atendendo "literalmente" ao que preconiza a Constituição Federal, garante uma liberdade que assusta. Assusta,  porque a partir de certa época o crime passou a compensar. Não têm mais muitas conseqüências após colocar a arma na cabeça de pessoas de bem e levar o dinheiro do caixa ou produtos dos estabelecimentos. Assaltam, estupram, matam à luz do dia e das câmeras de segurança (ou de insegurança), chegam à delegacia, fazem os procedimentos e uma semana depois estão soltos. Parecemos viver um filme de ficção, em que a desocupação e o vandalismo são comuns e apoiados pelas autoridades, as quais em sua imensa maioria querem ver mesmo o sinal do caos. Sem isso, elas se tornariam dispensáveis. Trata-se de um ponto mais peculiar ao Brasil, país da desordem e da regressão.

Num mundo tão estranho e apavorante, ainda sobra espaço para os "faz-de-conta"; os profissionais relapsos, especialmente na esfera pública, que se escondem por trás de um balcão para não atender as pessoas; profissionais que eternamente buscam subterfúgios para desviarem sua função: professores que nunca foram a uma sala de aula e se autoproclamam exemplos, contribuindo para uma educação cada vez mais precária e desalentadora; policiais que jamais foram para a rua dar segurança à população, ou porque não têm coragem ou por acomodação; médicos e outros profissionais de saúde que "engolem" as horas de trabalho em unidades de saúde sem equipamentos, medicamentos ou condições sanitárias adequadas. Eles não cumprem e os políticos comemoram essa inviabilidade de crescimento para continuarem nos tendo como reféns. Apesar de se tratar de um fato geral, esses últimos se identificam perfeitamente com o nosso país, uma nação mestre em dar calote em seus patriotas, os quais - por sua vez, submissos e ignorantes - adoram viver sob tal égide.

Estamos numa época que exigiria muita reflexão, caso tivéssemos essa consciência. Infelizmente tal reflexão - além de ser difícil pela "obediência" da população - quanto mais se concretiza menos traz luzes, espera-se seja enquanto. Há uma angústia geral de 7 bilhões de viventes sem rumo, sem lugar para onde ir, sem motivos para comemorar o que quer seja, apesar de viverem festejando um vazio intenso o ano todo. Não me atreveria a propor soluções para tantos e tão complexos problemas. Mas deveríamos começar pela indignação, pela não aceitação de certos preceitos e pela coletividade. Estamos muito desumanizados no sentido mais específico da palavra. Precisamos nos desconectar das redes, vez por outra, para refletir. Precisamos ver o outro como possibilidade de que os grupos sociais necessitam para desenvolver-se. Precisamos sair dessa prisão gigantesca onde estamos. A autoavaliação é requisito para a consciência coletiva, os valores morais devem ser revistos, minimamente. O mundo ainda pode ter surpresas positivas, mas nada virá apenas pela boa vontade. Boa vontade sobra aos maiores canalhas que conhecemos e só isso jamais nos mostrará uma humanidade promissora.  Vendo tudo isso acontecer, torna-se quase inútil tanta modernidade tecnológica, tanto avanço cientifico, se os pontos de vista não evoluíram simultaneamente a esses eventos.

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