14 de jul. de 2013

Quanto vale a simplicidade?



Quarta-feira, 10 de julho, 17h40. O telefone familiar toca para um convite não tão familiar. O meu compadre Erleilson Herly me chamava para uma caminhada, algo que nunca tinha feito com ele na vida. Já jogamos bola juntos, trabalhamos na mesma instituição há mais de três anos, frequentamos a casa um do outro regularmente, sou padrinho do filho dele. Entretanto nós, parceiros de tantas atividades, nunca antes saíramos para caminhar. Fomos normalmente, realizar algo muito comum do dia a dia das pessoas.

No trajeto de uma cidade já morna pelo final de expediente, começamos a comentar o saudosismo que alguns pontos nos traziam. A sede da SEMOSU (antiga FIAT), a antiga DISVESE, o Mini Center Jovilla e outras localizações por onde trilhávamos pareciam reconstruir um tempo infanto-juvenil que nos remete muitas dificuldades, mas muitas alegrias também. Uma sensação inexplicável, mas necessária às vezes, que até nos trouxe bem-estar naquela noitinha. Um sentimento estranho que tende a nos conduzir para uma época de menos compromissos (e comprometimentos), de menos responsabilidades, de colegas da escola, até de pessoas que já se foram. Como seria bom permanecer nessa dimensão por uns 3 anos! Não tínhamos quase nada e no entanto tínhamos tudo o que o ser humano precisa: vida.

Considerando essa pequena "regressão", comecei a lembrar do tempo em que nós dois iniciamos a trajetória profissional em Santa Cruz, especialmente entre a sexta e o sábado da segunda metade de 2005, na casa de José Erivan e Maria Irene C Santos. Aquelas noites em que nos acompanhavam especialmente os discos de Lulu Santos (De Leve, uma coletânea de 1996) e Kid Abelha (Meio Desligado, um acústico de 1994). Coisas simples naquela época, reeditadas agora como uma singular caminhada por uma cidade nada diferente para nós (e mesmo assim, muito mudada). Os dois momentos têm em comum, em 2005 ou 2013, o fato de exercermos um pouco mais a nossa condição humana, de sairmos dos paradigmas, das convenções exigidas por um mundo predador, de fugirmos a tanta sofisticação que nos impõem. Momentos distintos, mas parecidos em suas essências de simplicidade.

Aquela tarde-noite me fez rediscutir comigo mesmo o valor das coisas que deixamos de lado, aos poucos, e que vão se acumulando pela cegueira que nos querem empurrar sobre os olhos. Conquistamos muitas coisas nesses 8 anos referidos, é verdade. Mas isso não é tudo. No cotidiano, deixamos de sentar com os nossos amigos e rir das besteiras que eles contam; deixamos de brincar nos intervalos que temos disponíveis, para discutirmos coisas sérias; deixamo-nos levar demais pelas aparências, pela padronização digna das linhas de produção. Todos indo para o mesmo canto, gritando as mesmas idiotices e esquecendo-se do que realmente nos humaniza: a simplicidade; esteja ela presente nas lembranças de prédios antigos ou nas melodias que alguma vez nos tocaram no início de uma trajetória, é isto que nos torna gente. De repente, até deixamos em segundo plano (temporariamente) os benefícios de uma caminhada - importante para o corpo - por eventos essenciais ao nosso espírito.

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