Theo Alves
A classe média brasileira, egressa há pouquíssimo tempo de camadas socioeconômicas mais sofridas, se assusta com muita facilidade. Há uma tendência ao escândalo e à indignação vazia. Os “rolezinhos”, fenômeno social que inaugurou 2014, é prova desse desespero constante da classe média. De repente, mil, dez mil, 20 mil jovens aparecem não se sabe de onde nem como em lugares públicos em teoria, mas privados na prática, como os shoppings. E o que essa horda amealhada através das redes sociais deseja? A resposta é simples: se divertir.
Como quaisquer adolescentes, os meninos e as meninas dos rolezinhos querem se divertir. Sem embasamento filosófico, sociológico ou antropológico, mas embalados pela música ruim do funk ostentação, esse é um grupo que denota a maneira como veem a vida: o que importa é se divertir, é “causar”. Se as praias e outros espaços aparentemente mais democráticos não são mais, há anos, o Eldorado da diversão da classe média, por que os menos abastados continuariam relegados aos espaços a que foram tangidos? Eles exigem, mesmo sem a clareza da força que fazem, o espaço que lhes é (ou deveria ser) também de direito.
Enquanto isso, a classe média sonha com a distância que a classe A mantém dela: assim como os médios olham para cima para ver os mais abastados, esses médios também querem que alguém os veja de baixo, e assim vociferam através de uma polícia que age como um destacamento de capitães do mato. A classe média reclama, exige, que o fosso entre ela e os menos abastados seja mantido largo e profundo, mas como conter esse grupo que começou a perceber que, de direito, esses espaços também lhe pertencem?
Os shoppings fecham suas lojas, a polícia arrebenta os guris com cassetetes e sprays de pimenta e as moças de bom grado se horrorizam com os moleques que se sentam para pedir os itens mais baratos do cardápio das mesmas redes de fast food em que elas gastam muito.
Estou longe de ser sociólogo ou antropólogo: estou mais para lorotólogo mesmo, mas quando vejo o pessoal do rolezinho, me custa crer na organização de um movimento e acabo apostando mais na modinha Facebook, ainda que isso não signifique dizer que o rolezinho não tenha importância social. Creio que isso deixará marcas muito maiores que a orquestração do tal gigante sonâmbulo de 2013 numa sociedade que precisa compreender que os espaços são tomados quando se tenta excluir quem também é dono. Espero mesmo que esse seja um sintoma espontâneo desse reconhecimento de direitos de classe, ainda que despido de filosofias basilares, e que a galera do rolezinho possa fazer deste momento algo significativo para nosso tempo.
*Theo Alves é poeta, escritor, Assistente Administrativo do IFRN,
professor de linguagens em cursinhos preparatórios (literatura)
e coordenador da escola de idiomas WIZARD (língua inglesa),
todos em em Currais Novos/RN.