Cassildo Souza
Os
resultados gerais do ENEM / 2013 denunciam uma triste, mas já esperada
realidade, em se tratando do ensino brasileiro: das 100 escolas com melhores
médias nacionais, apenas 7 são públicas. E tal cenário tenderá a permanecer,
caso o nosso país continue a ignorar os investimentos (de ordem estrutural,
qualificatória remuneratória) nos primeiros níveis de ensino e se as condições
socioeconômicas desses alunos se mantiverem. Justiça seja feita, alguma coisa
mudou nos últimos anos, mas em a dívida sendo histórica, é preciso maior
celeridade na tentativa de diminuir tamanha diferença entre alunos públicos e
privados.
As
ações nesse sentido não podem limitar-se a instituir cotas sociais para
reparar, de maneira provisória e remediadora, os atrasos de nosso sistema
educacional. Valem até certo ponto - também não se pode ignorar completamente
esse tipo de política, por diversas razões a serem discutidas em outro momento.
A raiz do problema, todos sabem, está lá embaixo, na base, nos primeiros níveis
de ensino, os quais serão decisivos na formação do aluno quando este atingir o
nível médio. É lá que o aluno precisa alicerçar seus conhecimentos
especialmente em matemática e língua portuguesa, os dois componentes mais
importantes na escolarização de qualquer indivíduo.
Além
disso, é preciso continuar buscando a melhoria de condições econômicas das
famílias com baixa renda, às quais pertencem os alunos que não conseguem um
rendimento satisfatório na prova. Os dados mostram que quanto mais alto o nível
socioeconômico, maior a nota obtida no Exame. Cerca de 97% das escolas que
obtiveram as melhores notas na edição do Enem 2013 são compostas por alunos
ricos, com nível socioeconômico alto ou muito alto. Impossível seria ignorar
essa estatística, a qual relaciona, de maneira clara, as condições sociais e
condições de aprendizado. Não se afirma, com isso, que os alunos pobres não
podem aprender com qualidade, e isso até tem acontecido, mas a probabilidade de
um estudante que enfrenta condições adversas apresentar bom rendimento em sua
escolaridade é bem menor em comparação àquele que dispõe de uma estrutura a seu
favor.
O Brasil precisa olhar com mais ênfase o ensino básico, ao mesmo
tempo em que deve continuar - e com mais agilidade - primando por resolver
problemas sociais crônicos. A segunda opção parece estar um pouco à frente da
primeira, e isso pode ser um problema. Os níveis mais básicos de ensino muitas
vezes são deixados de lado, em preferência a uma campanha pela entrada nas
universidades que nem sempre se dá de maneira meritória. O aluno que vai à
universidade, hoje, beneficiado eventualmente por políticas públicas de
inclusão (justíssimas, por sinal) precisa ter tido uma boa escolarização nos
níveis primários para poder consolidar seus estudos com qualidade e com boas perspectivas
de atuação, ao concluir sua graduação. E isso, se considerarmos os dados do
ENEM, concebido prioritariamente para medir a qualidade do ensino médio, está
longe de acontecer, em se tratando de escola pública. Mudanças substanciais
precisam ocorrer.
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