27 de abr. de 2009

NOVO ENEM: PRENÚNCIO DE UMA NOVA ERA

Anunciada pelo Ministro da Educação, a mudança no sistema de seleção para as universidades, mais conhecido como vestibular, é uma realidade. A proposta de unificar o exame e modificar a natureza dos conteúdos, baseando-se no atual modelo do ENEM, para um recrutamento mais justo e democrático, foi recebida de forma satisfatória por mais de 90% das instituições públicas consultadas, apesar da necessidade de um planejamento sereno e responsável.
Toda mudança, é óbvio, requer uma adaptação ao processo. Em relação a isso, o Brasil continua o mesmo. A proposta inicial era de que todos os aderentes (48 das 52 instituições que participaram do encontro no Ministério) já adotassem as mudanças para este ano. Isto poderia inviabilizar a seleção em certas instituições, como a UFRN, a qual modificou o vestibular há apenas dois anos. Depois de algumas ponderações, ficou acertado que cada universidade terá autonomia para decidir quando e como inicia o novo processo. Elas adaptar-se-ão conforme suas necessidades e realidades, não havendo um modelo pré-definido ou imposição do Governo Federal.
Com o novo sistema, um aluno poderá, realizando um único processo seletivo, concorrer a vagas para mais uma instituição. Isso é um dos pontos positivos. Alguém que realiza, por exemplo, cinco processos seletivos em lugares diferentes vive um verdadeiro massacre mental, um desgaste que nem todos têm condições de superar. O outro ponto-chave é que os alunos terão mais liberdade de raciocínio, pois não precisarão, necessariamente, decorar fórmulas ou conceitos para fazer uma boa prova. Aspecto que tem sido discutido ao longo das décadas nas escolas e órgãos de ensino superior. Assim, para se ter uma vaga idéia, uma questão de Língua Portuguesa (Linguagens e Códigos) priorizará a capacidade interpretativa e gramatical, mas não do ponto de vista técnico e sim, do raciocínio, pela depreensão, hipótese, inferência. Não será necessário decorar o que é VERBO TRANSITIVO DIRETO. Ao aluno caberá apenas entender que determinado vocábulo é indispensável numa sentença por atribuir sentido ao elemento anterior, independentemente de saber-se o nome desse elemento. Continua sendo imprescindível dominar o conteúdo. Ou seja, os melhores continuarão a ser os escolhidos.
Temos de registrar que a UFRN já aborda as questões, em sua maioria, de maneira mais discursiva. A prova de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira é um exemplo claro. O aluno que se limita a decorar nomes de elementos gramaticais, que não lê integralmente as obras ou, lendo-as, não faz as devidas conexões com as temáticas sociais, é sempre um candidato ao fracasso. Isso, em minha maneira de enxergar, é um avanço na medida em que precisamos realmente é raciocinar e não fazer do vestibular um motivo para conhecer técnicas de memorização. A decoreba é deixada de lado, não sendo suficiente para promover no aluno os recursos que ele precisa para ser bem-sucedido. A adaptação, nesse sentido, não deverá provocar maiores traumas.
No entanto, como em tudo na vida, o aspecto negativo dessa nova proposta também existe. Essa pressa de querer que todas as universidades façam o ajuste desde agora revela um problema crônico em nosso país, que é a falta de planejamento. Reitero que mudança exige cautela, análise cuidadosa e aperfeiçoamento dos profissionais da educação, para que ao invés de virar um problema, transforme-se em solução, em melhoria na qualidade das seleções. É um momento de transição ao qual nos devemos acostumar, sem aquela resistência ao novo, típica, desnecessária e inexplicável. Mas tudo deve ser da maneira correta, sem excessos e sensacionalismos baratos.
Observadas tais questões, vejo nesse processo o início de uma nova era. Se trabalharmos corretamente, se nos dispusermos a encarar esse sistema como um crescimento do ponto de vista educacional, certamente os frutos saudáveis virão em maior escala. É evidente que precisamos encontrar meios para fazermos dessa nova empreitada um salto de qualidade na seleção de pessoas mais preparadas e com perspectivas futuras muito positivas, sendo o raciocínio, agora, o elemento definidor da qualidade dos escolhidos.

2 comentários:

Theo G. Alves disse...

cassildo,
aparte a mobilização política de uma questão como essa, compreendo que as mudanças sejam muito bem vindas, ainda que algumas questões me pareçam discutíveis (como em qualquer matéria), afinal há imensas desigualdades no papel do ensino médio em diferentes pontos do país. o melhor disso tudo é que os melhores continuarão sendo escolhidos, agora de forma mais humana. e acho que o ensino ainda precisa ir adiantando muito as coisas pra pegar o bonde da história, afinal conceitos como interdisciplinaridade acabam parecendo coisa nova nesses momentos. vamos lá ver no que vai dar.
abraço!

CASSILDO SOUZA disse...

É verdade, grande Théo. Essa padronização pode dificultar um pouco pelas diferenças existentes. No todo, entretanto, acho que com a nossa colaboração poderemos vislumbrar coisas extremamente positivas, o início de um modelo de ensino mais efetivo e menos alienante. Cabe a uma série de profissionais, especialmente os docentes, fazer dessa teoria uma prática para o exercício da cidadania.