29 de ago. de 2009

CAMINHOS PARADOXAIS (CASSILDO SOUZA)

A BOCA QUE TE CONDENA
É A MESMA QUE TE ABSOLVEU
NO TEMPO EM QUE FAZIA PARTE
DESSE UNIVERSO TEU.

POR ISSO A VIDA É DUAL
CONTRADITÓRIA, PARADOXAL
A METAMORFOSE É CONSTANTE
O INTERVALO É INSTANTE.

AMBULANTES SÃO IDÉIAS
OPINIÕES SÃO MUTÁVEIS
CONTRÁRIOS VIRAM DE LADO
AS CERTEZAS, IMPROVÁVEIS.

HÁ TRÊS FACES DA VERDADE
A PRIMEIRA, A SITUAÇÃO
A SEGUNDA, A INDECISÃO
A TERCEIRA, A OPOSIÇAO.

O NADA ESTÁ EM TUDO
A FALA SAI-SE DO MUDO
O MUNDO VIRA BRINQUEDO
O MEDO VIRA ESCUDO.

A DÚVIDA ESCURECE O CLARO
O RARO SE ESCLARECE
PERECEM AS CONJECTURAS
QUE SE APÓIAM EM ARMADURAS.

VERDADES NÃO CORROMPIDAS
MENTIRAS QUE ESTRELAM
AS SITUAÇÕES DAS VIDAS
COM COISAS QUE SE APELAM.

28 de ago. de 2009

Hiato (Cassildo Souza)

Quanto tempo durará
O hiato que se formou
Entre nossas esquisitas idéias?
Esse abismo, para onde deslocar
Se tudo mantém uma oposição
Se nada se obtém no núcleo da razão?
Caminhos descaminhados
Descaminhos prolongados
Nesses ninhos enrolados.
Tiros não acertados
Tombos não planejados
Em rebeldias sem causa.
Muitos emaranhados
Indefinidos estados
Que não apresentam pausa.
E a direção, sem um norte
Sem forte orientação
Na calada das incertas.
Pudesse eu escrever
Tudo que quero dizer
Sem as feridas abertas,
Diria, em alto tom
Não há nada assim tão bom
Que não emita alertas.
O espaço que cresceu
Distância que percorreu
Nada muito adiantou.
Esperarei por resposta
Sem figuras de retórica
Essa questão está posta.
Nada se modificou
Onde está esse meu “eu”,
Para onde se voltou?

21 de ago. de 2009

O "HERALDÊS"

Em nossa trajetória de vida e profissional, pessoas surgem, pessoas vão, pessoas nos decepcionam, pessoas nos orgulham. E o que devemos fazer é simplesmente tirar o melhor delas, sem nenhum rancor. Há algumas para quem nem é preciso fazer isso, porque dispõem de uma autenticidade tão grande que nos vale a pena lembrar delas. Heraldo Lisboa dos Santos é um desses personagens. Tendo trabalhado quatro anos em sua companhia, na SEMEC, aprendi a admirá-lo logo nas primeiras semanas: responsável como ninguém; exigente como poucos; amigo raro em todas as horas; e colega incomum. Mesmo nas horas de estresse ele se via imbuído a criar situações engraçadas, tornando aquilo que poderia ser uma contenda numa descontração propícia aos momentos de tensão.
Coisas que aprendi de Heraldo são bastantes. Mas as expressões por ele criadas fazem qualquer um reconhecê-lo como um exímio analista das situações do dia-a-dia. Certo dia, sugeri-lhe que criasse o Dicionário "Heraldês", traduzindo para aqueles que, infelizmente, ainda desconhecessem sua obra que a apreciasse sem moderação. Como foi bom aquele tempo, como na verdade também tem sido bom o que vivo hoje. Há muita gente boa ainda neste mundo, é só sabermos procurar. Heraldo é um exemplo de correção incontestável e, para homenageá-lo, deixo registrados alguns vernáculos de sua autoria, no dia em que, coincidentemente, o encontrei após algum tempo sem vê-lo:
RIGOLETO CATACUMBA
MONTE SINAI COREANO
BANGOLA PERGOLADO
CRIATURA RADICULAR
DOR NA ESPÍSTOLA
TACIMA CHAPECÓ
FIGURA PIGNORATÍCIA DO DESDÉM
FIGURA SESQUISPASSASQUINADA

ALINHANDO OS OPOSTOS (CASSILDO SOUZA)

Trajetória-ilusão
O início-conclusão
Da estranha sensação.
O redondo aplainado
O espinho perfumado
Desse escuro-clarão.
E o direto-inverso
Quanto seco no molhado
Quanto cheio no vazio.
E o bondoso-perverso
Quanta emoção racional
Quanta cheia no estio.
E vida-morte sempre
O sofrer prazerosamente
Inicia o final.
A reta-torta se cansa
E o estático se lança
Nesse enigma-sinal.

19 de ago. de 2009

LEI ANTIFUMO - UM PASSO PARA O AVANÇO

Cassildo Souza
Aprovada em São Paulo, a lei que proíbe as pessoas fumarem em locais fechados de uso coletivo poderia ensaiar mais uma polêmica no cenário das discussões do Brasil, como no caso da "Lei Seca". No entanto, o que se observa nos primeiros dias de sua atuação, diferente daquele outro dispositivo, são pessoas que, no geral, a receberam satisfatoriamente. Seria uma denúncia de a população estar conscientizando-se?
Todos são livres para fazerem o que quiser com suas vidas, inclusive morrer com o pulmão manchado. No entanto, a Lei visa a um favorecimento coletivo, pois não há nada mais deplorável do que ficar recebendo fumaça dos outros. Mesmo em locais abertos, para quem não é fumante ativo, representa um incômodo terrível aquele cheiro sufocante do resíduo que volta depois de uma tragada. Ninguém é obrigado a passar por isso. Nesse aspecto, vislumbro um passo adiante na luta contra os efeitos desse passatempo nada convidativo.
Sem querer, acabam-se beneficiando também os contrários à norma, que, felizmente, são minoria. Se o hábito de fumar é restringido, gradativamente vai-se criando um controle, uma freqüência menor. Por conseqüência, alguns podem repensar se essa atitude favorece a sua saúde e, de repente, até tentar livrar-se espontânea e completamente. Nesse sentido, a Lei, que possui caráter altamente social e coletivo, acaba também atingindo objetivos individuais ainda que não seja a sua inicial preocupação e, por isso, merece ser congratulada.
Medidas como essa são de uma importância enorme, num país onde a saúde é tema corriqueiro. Se podemos mudar hábitos para não contrairmos a dengue e a gripe suína, por que devemos continuar num erro que só pode levar senão à morte, a doenças muito graves? Não é à toa que, segundo o site http://www.leiantifumo.sp.gov.br/ (portal criado pelo Governo de São Paulo para tecer informações), 88% das pessoas são adeptas da Lei. É claro que é preciso cuidado para não desrespeitar a individualidade alheia, mas a consciência coletiva parece ser um aliado na tentativa de tornar os ambientes fechados e coletivos cada vez mais agradáveis e cada vez menos responsáveis pela propagação de doenças. Isso é avanço, e avançar nunca será ilícito.

13 de ago. de 2009

MODELO DE CARTA ARGUMENTATIVA

Transcrevo um modelo de carta argumentativa mais adequada ao momento atual. Vale a pena conferir. Trata-se de um pedido de afastamento do Presidente do Senado, José Sarney.


Brasília, 30 de julho de 2009.


Excelentíssimo Senhor Presidente José Sarney,


Com as minhas considerações, venho tratar de um assunto bastante recorrente na mídia nos últimos meses, o qual envolve diretamente V. Exa., como Presidente do Senado Federal, Casa pela qual tenho o maior respeito. Trata-se de denúncias de favorecimento a vários senadores, por via de Atos Secretos, inclusive o Senhor, fato que envergonha a todos nós, brasileiros.
A minha visão é de que o Senhor Presidente deveria pedir afastamento do cargo. Sem querer fazer um julgamento precipitado, mesmo porque todos são inocentes até que se prove o contrário, o fato é que as denúncias existem e não são simples. São muitos os indícios de beneficiamento ilícito, como casos de nepotismo e aumento de verba indenizatória, sem publicação nos devidos órgãos de imprensa oficiais. Vossa Excelência aparece ligado a diversos desses Atos e, por isso, acho que sair, pelo menos temporariamente, seria uma prova de que pretende colaborar com as investigações.
Tais investigações constituem um elemento decisivo para a transparência pública, uma vez que a sociedade precisa ter conhecimento de como o dinheiro de seus impostos e tributos estão sendo aplicados. Num país em que a educação e saúde, só para citarmos duas áreas, costumeiramente vão de mal a pior, é inadmissível aceitarmos que ocorrências dessa natureza sejam consideradas normais. Por esse motivo, entendo que o Excelentíssimo Senador deve pedir licença, visando sempre ao interesse público.
Como cidadão brasileiro, consciente de minhas obrigações e direitos, é este o meu posicionamento. Se quem não deve não teme, dê-se a chance de esclarecer o que Senhor mesmo chama de denúncias infundadas, e isso só pode ser feito a partir do momento em que não mais ocupar a Presidência dessa Egrégia Casa, pois a sua imagem estará desvinculada de toda e qualquer “manobra” que porventura exista para não prolongar o caso.

Com os meus respeitos.

Povo Consciente.

12 de ago. de 2009

COMO ATINGIR UM BOM NÍVEL DE REDAÇÃO

Dicas para fazer da redação uma tarefa mais natural e menos temerosa:

- Ler sobre todos os assuntos é o primeiro passo. Ninguém consegue transmitir qualquer coisa, sem que obtenha informações sobre ela. Há vários temas que podem ser cobrados, e não existe uma tendência ou previsão. A preparação deve ser completa;
- Escrever corriqueiramente. Se você ler e não praticar, não vai adiantar muita coisa. É preciso converter as informações recebidas em construções textuais. E isso deve ser feito com um prazo de, no máximo, uma semana de descanso. Se passar disso, a acomodação começa a ganhar espaço;
- Ser objetivo, claro, conciso. Não se admitem mais textos truncados, que se apóiam única e exclusivamente em demonstrar conhecimento vocabular. De nada serve utilizar as palavras mais hilárias sem que estejam contextualizadas com a situação;
- Definir uma linha de raciocínio e não fugir dela. Misturar temas ou desviar-se do foco pode, inclusive, eliminar o candidato;
- Escrever de forma legível. Isso não significa dizer que seja preciso "desenhar" a letra. O aluno deve, simplesmente, tornar claros os períodos que compõem o texto, para possibilitar uma avaliação fiel daquilo que está sendo analisado;
- Não se posicionar de forma exageradamente subjetiva. O texto, qualquer que seja seu gênero, deve trazer uma carga de impessoalidade, que significa não tomar partido de um assunto por questões pessoais. É preciso equilíbrio, até para poder encontrar argumentos convincentes;
- Evitar expressões coloquiais, quando o texto for de natureza DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVA. Isso não se adequa à situação;
- Saber diferenciar a estrutura conforme os gêneros: Carta exige um modelo, Artigo exige uma outra esquematização, Notícia tem suas particulares. E assim por diante;
- Reescrever sempre o texto que não foi bem avaliado. Essa atitude talvez seja a mais importante e, infelizmente, a menos praticada.
Espero que essas dicas possam contribuir àqueles que estão conscientes da importância da redação na nota final do vestibular.
Um grande abraço.
Cassildo.

6 de ago. de 2009

TIRANDO DO SÉRIO

Devo ter alguns desafetos virtuais, por aí afora. Digo "virtuais" porque não tenho conhecimento e nem me interessam intrigas. No entanto, isso é baseado nas minhas relações diárias com pessoas mais próximas e, teoricamente, com maior liberdade para falar certas coisas.
O que me tira do sério é alguém desconfiar de mim sem motivos ou acusar-me de algo que, insistentemente, digo não ter feito e de que, também insistentemente, continuam acusando-me. Aí não há paciência que dure mesmo em mim. Sou assim, explosivo quando a situação exige. Acontece de, por questões de civilidade, eu posso "engolir um monte de sapos" quando esperam que eu "chute o balde". Sou imprevisível. Nem sempre isso acontece. E o contrário também, pois por uma pequena coisa, eu posso fazer uma tempestade desnecessária. Acho que todos somos assim, de certa forma. O mais importante de tudo é reagir quando se tem um motivo, o que tem ocorrido comigo ultimamente.
Ontem à noite e hoje pela manhã fui sondado por essa insistente afirmação de coisas que não realizei e acabei, no primeiro caso, apenas me calando; mas no segundo, talvez pela continuidade do processo, vi-me bastante enfurecido, a ponto de dizer que não admitiria ser chamado de mentiroso. Mesmo quando se tem razão, certas vezes se acaba exagerando e, nesse caso, parece que existe mais uma autocondenação do que uma defesa.
O fato é que, embora disposto a melhorar, a essência não morre. Porque existe uma coisa chamada princípio, da qual todos devemos desfrutar, para que a nossa identidade não seja considerada descartável. Um dos princípios que tento carregar é o de não me curvar diante daqueles que desejam contrariar as minhas convicções. Tenho-as como tesouro e, a despeito do julgamento sobre meu comportamento excessivo, faço de tudo para defendê-las e conservá-las. Mas isso não significa que serei o dono da verdade, nem que guardarei uma gota sequer de mágoa, esse sentimento mesquinho e regressivo.

5 de ago. de 2009

O MUNDO DOS "FAZ-DE-CONTA"

Parece que estamos vivendo um período bastante controverso em nossa realidade. Tudo virou de ponta-cabeça e está invertido nos valores, nos costumes, até na prática com aquele de quem se diz amigo. O certo é, hoje, o errado; este, por sua vez, vale muito mais do que aquele.
As aparências atualmente enganam mais do que nunca. Mas até certo ponto, pois também, no geral, as pessoas não têm mais vergonha de se mostrarem inertes, incompetentes, antiéticas, sem caráter. Ninguém mais se preocupa em contribuir para o crescimento do outro; ser honesto é sinônimo de "babaquice"; não fazer bagunça é igual a ser "muito delicado" e trabalhar correto é sinal de caretice. Aonde vamos parar? A que ponto nós chegamos neste Terceiro Milênio tão esperado e tão pouco evolutivo, por causa dessas questões?
Não teria nenhuma pretensão de mudar o mundo. Aliás, antes disso, eu teria que mudar muito a mim mesmo. Mas acho que cada um, ao reconhecer as próprias falhas e refletir sobre o que realmente é positivo, moderno e inovador, já está dando um passo para que a evolução volte a acontecer. Li, certa vez, num texto intitulado "Arrumar o homem" que nada pode ocorrer no sentido de renovação se não partir antes do indivíduo, do ser humano que procura conscientizar-se daquilo que servirá como base para suas futuras gerações. Os valores precisam ser retomados enquanto ainda existe tempo. É preciso não perder de vista o que diferencia o certo e o errado, porque isso não muda com o passar do tempo. As atitudes é que mudam, no entanto, nós podemos controlar as ações.
Temos de transmitir àqueles que estão em nosso redor que a postura correta é o caminho a ser trilhado. As máscaras sempre caem, por mais que procuremos disfarçar. Hoje, contraditoriamente, vivemos cercados de mecanismos vigilantes e, mesmo assim, alguns ainda insistem em querer esconder aquilo que, muitas vezes, está óbvio. Tudo em nome de um "faz-de-conta" sem precedentes para poder alimentar a ganância e a incapacidade em detrimento da busca incessante que todos deveriam traçar coletivamente.

4 de ago. de 2009

SUBSTANTIVOS DE GÊNEROS ESTRANHOS

Alguns substantivos são estranhos quanto ao gênero e, por esse motivo, causam dúvidas.
Por exemplo, a que gênero pertence os vocábulos CÔNJUGE, CAL, MILHAR?

Comecemos pelo princípio:

A agressão ao engenheiro foi presenciada pelo cônjuge Maria das Graças.
*Cônjuge é sempre vocábulo MASCULINO, independentemente se esposo ou esposa. É substantivo SOBRECOMUM e, por isso, apresenta um só gênero para designar o ser a que se refere. Faz-se a distinção utilizando-se termos como ESPOSO / ESPOSA, HOMEM / MULHER, e assim por diante.

Temos de comprar a cal para terminar a reforma do apartamento.
*
Cal
é, ao contrário do pensamento da maioria, FEMININO e, por isso, deve ser sempre precedido do artigo a.

Os milhares
de pessoas que estavam na festa foram surpreendidos pela notícia.
*A rigor, como o substantivo milhar é MASCULINO, independentemente da palavra que vem depois, deve ser utilizado com o artigo o.

ALGUNS SUBSTANTIVOS UNIFORMES SOBRECOMUNS E EPICENOS
Cônjuge (o)
Libido (a)
Cal (a)
Guaraná (o)
Laringe (o)
Dó (o)
Clã (o)
Proclama (o)
Champanha (o)
Vítima (a)
Jacaré (o)
Cobra (a)
Onça (a)
Personagem (a)

ALGUNS SUBSTANTIVOS UNIFORMES COMUNS-DE-DOIS-GÊNEROS
(GÊNERO É DEFINIDO PELO ARTIGO)
Todos os terminados em ISTA são Comuns-de-Dois
Artista (0, a)
Pianista (o, a)
Passista (o, a)
Intérprete (o, a)
Estudante (o, a)
Colega (o, a)
Discente (o, a)
Docente (o, a)

ALGUNS SUBSTANTIVOS QUE MUDAM O SENTIDO COM A MUDANÇA DE GÊNERO
O cobra = inteligente, que sabe muito
A cobra = animal, réptil
O moral = coragem, a disposição
A moral = ética, valor
O cisma = separação
A cisma = desconfiança
A cabra = animal pertencente à categoria do gado caprino
O cabra = o homem, o macho (coloquial)