Não quero ser redundante nem adepto de clichês, falando mal dos programas televisivos brasileiros, aqueles de ditos de auditório, que aspiram a descontrair os telespectadores de uma sociedade acostumada a mesmices e coisas sem criatividade. Mas um tema que julgo perceptível é a exploração das condições precárias da população por parte de alguns shows de TV, visando tão exclusivamente a gerar audiência e aumentar seus patrocínios.
Existe uma série de programas oferecendo casa própria, reformas e até mesmo passagens de volta para terra natal. No entanto, o que parece ser um benefício gigantesco torna-se pequeno diante da apelação que é feita e da repercussão que uma empresa causa ao aparecer num desses programas doando o que quer que seja. O tempo gasto para tratar de um único caso também constitui um fato a ser analisado com muito critério. Afinal, a intenção deles é justamente provocar comoção e fazer parecer que se trata de uma ação social da mais alta relevância.
Evidentemente que os benefícios também existem. Não os negaria aqui, porque contra fatos não há argumentos. Mas, muitas vezes, a fúria e o entusiasmo iniciais perdem-se com o tempo, e não tenho assistido a nenhum programa que faça nova visita às pessoas contempladas, a fim de comprovar se as suas vidas realmente mudaram, após um ou dois anos, e que o presente foi verdadeiramente concreto e eficaz. Isso talvez não propiciasse audiência, se a realidade se mostrasse cruel.
O que queremos, de fato, é que os programas ajudem os cidadãos no sentido da consciência crítica, com conteúdos reflexivos e culturais. Se for para desenvolver políticas assistencialistas que só visam a alguns interesses comerciais, eles perderão o sentido, porque isso o Estado já faz como ninguém e há muito tempo. A televisão precisa, urgentemente, ser reciclada a fim de que avancemos, no sentido de sermos independentes, de sermos reconhecidos com coberturas de alto nível e de podermos indicar aos mais jovens alternativas na busca do conhecimento.
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