O ENEM, em sua essência, tinha por finalidade
medir o nível dos alunos de ensino médio, a fim de se buscar possíveis
intervenções para superar as deficiências na aprendizagem. Com os programas de
incentivo ao ingresso no ensino superior (ProUni e SISU), várias instituições,
incentivadas ou pressionadas pelo governo brasileiro, adotaram o Exame como
forma de oferecer vagas nos cursos disponíveis, transformando-o num vestibular
nacional, por mais diversificado que fosse e - que continuará a ser - o nosso
país. A última instituição a adotar essa forma de ingresso ao 3º grau foi a
UFRN, destinando 50% das vagas em 2013 e 100% em 2014.
Perguntas que muitos fazem: desconsiderando-se
qualquer falha de natureza operacional, o Exame é - tecnicamente - um bom
parâmetro para medir a capacidade dos candidatos? É possível aplicar uma única
prova aos alunos de todas as regiões de um país tão extenso? A ideia do
"Novo Enem", este direcionado a recrutar candidatos para as
instituições de ensino superior, era a de integrar os conhecimentos, dentro da
perspectiva da interdisciplinaridade. Na época desse anúncio, as escolas e cursinhos
preparatórios ao vestibular ficaram atônitos, porque a exigência seria, a
partir de então, bem maior. Até pequenas capacitações foram realizadas. Mas,
como o passar de três anos, sucessivas falhas, provas longuíssimas e aprovações
de alunos que não conseguiriam vagas pelas vias do vestibular tradicional,
percebe-se que a propaganda é - se não enganosa - exagerada.
Vamos analisar: o ENEM não tem questões
discursivas, as quais filtram bem o conhecimento específico da área para a qual
se vai concorrer; os enunciados são baseados em textos que, embora longos, não
têm toda a dificuldade pregada, exigindo mais paciência do que a
inteligibilidade em si; são "simplesmente" 900 itens: 180 questões,
cada uma com 5 alternativas, em apenas 2 dias, o que comprova ser uma
verdadeira prova de resistência e não tanto teórica. Isso não tem servido para
selecionar os melhores candidatos, pelo menos não tem sido feito com mais
eficiência do que o vestibular da UFRN, referência mais próxima de nosso contexto. Inclusive porque as realidades locais (geografia, cultura, história)
dificilmente serão exploradas numa prova de abrangência inter-regional. Outro
aspecto é que na maioria dessas provas, os enunciados das questões resumem o texto
dado e se o aluno for esperto, deixa de ler o texto para ler apenas o
enunciado, ou seja, há questões com informações repetidas, contrariando a ideia
da ótima qualidade e da interdisciplinaridade. São inúmeros os motivos que
levam a concluir não ser o ENEM uma referência tão qualificada.
O Exame como parâmetro para medir conhecimento
seria aceitável, especialmente num momento como este, em que as atenções se
voltam para o ensino médio e seus problemas de aprendizagem. No entanto, não
vejo com bons olhos um vestibular nacional num país com realidades internas tão
discrepantes. O governo deveria facultar a adesão para as instituições, porque
- segundo rezam os dispositivos que tratam da educação - as universidades são
autônomas. Mas tal independência é mascarada pelas constantes ameaças do governo
em reduzir investimentos nas instituições que não aderirem à seleção. Isso, por
si só, coloca em jogo as reais intenções das autoridades em educação do País,
que parecem não estar preocupadas em outra coisa senão fazer publicidade do
governo e "empurrar" centenas de milhares de alunos para o ensino superior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário