27 de abr. de 2012

O CONHECIMENTO MEDIDO PELO "SUPER" ENEM

O ENEM, em sua essência, tinha por finalidade medir o nível dos alunos de ensino médio, a fim de se buscar possíveis intervenções para superar as deficiências na aprendizagem. Com os programas de incentivo ao ingresso no ensino superior (ProUni e SISU), várias instituições, incentivadas ou pressionadas pelo governo brasileiro, adotaram o Exame como forma de oferecer vagas nos cursos disponíveis, transformando-o num vestibular nacional, por mais diversificado que fosse e - que continuará a ser - o nosso país. A última instituição a adotar essa forma de ingresso ao 3º grau foi a UFRN, destinando 50% das vagas em 2013 e 100% em 2014. 

Perguntas que muitos fazem: desconsiderando-se qualquer falha de natureza operacional, o Exame é - tecnicamente - um bom parâmetro para medir a capacidade dos candidatos? É possível aplicar uma única prova aos alunos de todas as regiões de um país tão extenso? A ideia do "Novo Enem", este direcionado a recrutar candidatos para as instituições de ensino superior, era a de integrar os conhecimentos, dentro da perspectiva da interdisciplinaridade. Na época desse anúncio, as escolas e cursinhos preparatórios ao vestibular ficaram atônitos, porque a exigência seria, a partir de então, bem maior. Até pequenas capacitações foram realizadas. Mas, como o passar de três anos, sucessivas falhas, provas longuíssimas e aprovações de alunos que não conseguiriam vagas pelas vias do vestibular tradicional, percebe-se que a propaganda é - se não enganosa - exagerada.

Vamos analisar: o ENEM não tem questões discursivas, as quais filtram bem o conhecimento específico da área para a qual se vai concorrer; os enunciados são baseados em textos que, embora longos, não têm toda a dificuldade pregada, exigindo mais paciência do que a inteligibilidade em si; são "simplesmente" 900 itens: 180 questões, cada uma com 5 alternativas, em apenas 2 dias, o que comprova ser uma verdadeira prova de resistência e não tanto teórica. Isso não tem servido para selecionar os melhores candidatos, pelo menos não tem sido feito com mais eficiência do que o vestibular da UFRN, referência mais próxima de nosso contexto. Inclusive porque as realidades locais (geografia, cultura, história) dificilmente serão exploradas numa prova de abrangência inter-regional. Outro aspecto é que na maioria dessas provas, os enunciados das questões resumem o texto dado e se o aluno for esperto, deixa de ler o texto para ler apenas o enunciado, ou seja, há questões com informações repetidas, contrariando a ideia da ótima qualidade e da interdisciplinaridade. São inúmeros os motivos que levam a concluir não ser o ENEM uma referência tão qualificada.

O Exame como parâmetro para medir conhecimento seria aceitável, especialmente num momento como este, em que as atenções se voltam para o ensino médio e seus problemas de aprendizagem. No entanto, não vejo com bons olhos um vestibular nacional num país com realidades internas tão discrepantes. O governo deveria facultar a adesão para as instituições, porque - segundo rezam os dispositivos que tratam da educação - as universidades são autônomas. Mas tal independência é mascarada pelas constantes ameaças do governo em reduzir investimentos nas instituições que não aderirem à seleção. Isso, por si só, coloca em jogo as reais intenções das autoridades em educação do País, que parecem não estar preocupadas em outra coisa senão fazer publicidade do governo e "empurrar" centenas de milhares de alunos para o ensino superior.

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