Entre todos os motivos para não se querer estudar ou buscar focar-se num objetivo, eu incluiria os privilégios oferecidos pelos pais a seus filhos, os quais não vêem qualquer serventia em se interessar pelo conhecimento, pregado por nós como uma condição essencial para um futuro digno. Diante disso, parecemos gritar a uma multidão que não tem qualquer interesse em ouvir o que chamam de "sermões".
Dizemos, todos nós - em especial os educadores - que a escola é o espaço da socialização, do desenvolvimento, da formação. Mas há algo que, na tentativa de convencermos nossos jovens a se direcionarem para os estudos, pregamos com ainda mais ênfase: dizemos-lhes que a formação escolar trará oportunidades, bons empregos e - consequentemente - bem-estar.
O fato é que alguns pais tratam de contribuir decisivamente para que os filhos e, em outra instância, os alunos se desinteressem pelo ato de estudar. Ir para a escola parece tornar-se uma tarefa chatíssima e, mais ainda, estar lá lendo, refletindo, discutindo, debatendo. Ainda que se propague ser ruim o nosso modelo atual de escola, isso nem sempre é o principal motivo de tanta aversão. O fato é que os nossos meninos não encontram sentido em ir para um lugar buscar conquistas que já têm em casa: mesadas, chave do carro, roupas caras, falta de limite de horário, tudo sem a exigência de uma contrapartida.
Nenhum bônus que os pais oferecem a seus filhos - e isso não é proibido - pode acontecer sem que se peça algo em troca; a consciência de que conquistas devem ser valorizadas tem de começar desde cedo. Se os adolescentes de hoje possuem certos privilégios sem fazer esforço nenhum para conquistá-los, não nos adiantará dizer-lhes que sem instrução ninguém chega a lugar nenhum. Eles continuarão pensando que se trata de um discurso desgastado o qual não vale a pena ouvir, porque já estão de posse do que desejam. Nesse sentido, para eles, a escola passa a ser apenas uma obrigação semanal que nada traz senão tédio.
Deixamos tudo disponível para os jovens e mesmo assim não exigimos nada que eles possam realizar para compensar o que estão recebendo; entregamos as chaves do carro, damos dinheiro para curtirem as baladas, compramos as roupas das marcas mais cobiçadas; nem procuramos saber como está o seu rendimento escolar, o seu comportamento na escola e na sociedade. Depois queremos respostas para a sua falta de foco. A resposta é simples, mas não sei se a solução - a esta altura - é tão certa: tirar certos privilégios como o carro ou o computador; diminuir suas "gorjetas"; exigir cumprimento de uma rotina de estudos e horários de chegar em casa. Fácil não é, especialmente porque alguns pais preferem ver seus filhos longe. E a escola fica refém de uma situação que começa em casa: por que estudar, se eu tenho (aparentemente) tudo?
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