31 de jul. de 2012

PROLIXIDADE E FORMALISMO EXAGERADO: PROBLEMAS NA COMUNICAÇÃO

"Estou a aguardar serenamente um senhor que me virá deixar uns papeis cuja assinatura não pode faltar para que seja procedida a liberação legal de meus vencimentos funcionais."


Ser formal nem sempre é vantajoso para promover uma boa comunicação; aliás, quase nunca a formalidade, numa situação cotidiana, favorece uma interação compreensiva entre falante e ouvinte ou escritor e leitor. Há algum tempo, temos discutido a validade das normas gramaticais numa língua viva, aquela que não fica escondida dentro de uma gramática. É claro que há situações de formalidade que exigem o emprego da norma culta, no entanto, a adequação lingüística é mais importante do que qualquer outro recurso. Isso é natural, fruto de inúmeras relações existentes no uso do idioma. Quando não se observa isso, acaba-se sendo inconveniente, prolixo, à maioria das vezes.

A frase inicial deste artigo ilustra bem a "burocracia da comunicação". Complica-se a compreensão, a começar pela não receptividade ao vocabulário (perdoem-me, neste trecho o excesso de formalismo). As palavras, ainda que estejam bem organizadas, formam uma estrutura de difícil audição, a qual poderia ser - tranqüilamente - dispensada ou substituída por enunciações mais simples e então mais fáceis de se compreender. Afinal, qual deve ser a comunicação ideal, senão aquela que possibilita entendimento, interação, clareza?

Também sou professor de Português e Inglês, como vários colegas meus o são: Cloacir, Théo Alves, Giânote Araújo, Tobias Crispim, Edilma Cortez, Elba Alves, Luciana Carvalho, Angelúcia Pereira. Digo "também" porque somos, antes de tudo, professores de LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS (termo muito formal), ou seja, devemos por obrigação trabalhar na perspectiva de despertar nos alunos a capacidade de ser compreendido na comunicação, bem como a capacidade de entender o que outros produzem, pela experiência que língua proporciona e não simplesmente pela mentalização de regras.

Estamos em um novo momento; o momento das redes sociais, da comunicação prática; a língua hoje em dia muda muito rapidamente, é extremamente dinâmica e os códigos têm sofrido transformações radicais; usar bem a linguagem exige muito menos que regras ultrapassadas e muito mais experiência, no sentido da experimentação pelas situações comunicativas que nos cercam dia a dia. Vamos abandonar a gramática? Claro que não, mas devemos nos conscientizar, de uma vez por todas, que ela é apenas um segmento da língua, assim como o coloquialismo, as gírias, os jargões, etc. É necessário ponderar que todos os usos têm seus momentos, não cabendo julgar certos ou errados, mas adequados ou não, dependendo da situação.

Desse modo, a forma mais adequada da frase, para uma situação prática, seria "Estou esperando calmamente uma documentação para assinar, porque preciso receber meu salário.". A compreensão seria bem mais rápida.

Boa escrita!

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