10 de fev. de 2013

NO BRASIL, ATÉ (E PRINCIPALMENTE) O CARNAVAL É DE FACHADA

"...vivemos de 'curtição', brincamos com coisa séria, dizendo que tudo deve começar após o carnaval, depois lamentamos violência, corrupção e fatos afins."
Não quero criar polêmicas (nem tenho mais idade para isso - se é que idade interfere), mas sou daqueles que entendem haver um equívoco quando se diz "O Brasil é o país do carnaval".  Há um erro em pelo menos 50% da afirmação. Sao vários os brasileiros que não suportam tanto barulho, tanta manipulação e tanta coisa dita carnavalesca que não mais é. Mas a impressão que os veículos de comunicação mais prestigiados nos passam é de que a maioria absoluta dos brasileiros curte essa festa compartilhando da ideia de que tudo deve iniciar apenas depois dessa celebração. Essa ideia, pensada muito cuidadosamente, tem funcionado.

Algumas pesquisas realizadas em meados dos anos 2000 comprovaram que mais da metade da população brasileira não aprecia o período carnavalesco e que esse percentual se refugia nos dias da folia. Alguns vão às praias mais calmas, outros se dirigem à zona rural, milhares saem para os retiros. Pela televisão e internet, parece ser o contrário. A pompa que se dispensa às festividades, com transmissão de desfiles das escolas de samba ou bailes, é digna de veículos de comunicação gigantes que conseguem através da publicidade fazer tudo parecer necessário, essencial, perfeito, o que não corresponde à realidade. Uma manipulação maquiavélica.

 Mas isso é apenas uma analogia do que acontece historicamente no Brasil. Estamos, ou parecemos estar, na terra do "quase", do "faz-de-conta", da imitação, da demagogia, da mentira velada. O carnaval aparece como uma festa do povo, com a conivência dos meios de comunicação mais populares; é "fabricada" para que as pessoas a recebam assim. Isso é uma continuidade do ocorre com as políticas públicas, com o cuidado à população, com a estrutura da educação, da saúde, da segurança. Se tudo isso, bem mais relevante do que o carnaval, é sempre manipulado e não nos atende a contento, com o carnaval não poderia ser diferente. E, então, ele acaba se transformando também num modo de fazer o povo esquecer-se do que é realmente importante. E haja misturas: bebidas, direção, sexo sem segurança, acidentes, gravidez indesejada. É a festa do povo. E o país? "Deixa pra lá".

Não nos enganemos, pois a frase "No Brasil tudo começa depois do carnaval" foi disseminada pela classe elitista com o intuito de ser incorporada pela população brasileira. Há uma junção entre o pensamento de que o evento é da maioria - quando não é - e o fato de que tudo realmente precisa iniciar após esses festejos. Tal mentalidade influencia até mesmo aquele percentual que não gosta de cair na folia, o que constitui algo preocupante demais para um país que se deseja chamar de "evoluído". Tudo "fake", maquiado, de fachada. E, assim, vivemos de "curtição", brincamos com coisa séria, dizendo que tudo deve começar após o carnaval, depois lamentamos violência, corrupção e fatos afins. É o Brasil, sempre mestre em fazer parecer aquilo que não é.

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