Nunca fui um aluno quieto, tranquilo a ponto de ficar calado na sala de aula. Às vezes, até exagerava no tom de voz - ainda que geralmente tratasse de temas relacionados à aula. Mas era tudo com limites: bastava um pedido ou olhar mais sério do professor para compreender o recado e concentrar-me nas explicações. Hoje, sem querer comparar as épocas, dá impressão de ser mais difícil obter a atenção dos alunos. Mas seria esta uma característica do brasileiro, mesmo aqueles que não estão na fase escolar? Uma marca de comportamento ou falta de educação?
Para quem é professor, uma grande dificuldade - não somente em aulas expositivas - é alcançar uma atenção maior durante atividades que requerem concentração e interação. Infelizmente, isso tem sido observado também em outros âmbitos, com outros públicos e outras faixas etárias. Em mais de uma ocasião, em eventos pedagógicos nos quais se reúnem centenas de professores, já vi palestrantes pararem sua exposição para que alguns educadores fizessem silêncio, o que constrangeu parte da plateia, especialmente aqueles de bom senso. Parece mesmo ser algo que marca a nossa gente, mas a questão é saber: simples característica ou falta de respeito?
Com base nas situações que costumo viver no dia-a-dia, acredito que o problema seja indisciplina, no sentido mais abrangente que a palavra pode assumir. A falta de insistência em corrigir tal hábito também resulta de nossa passividade, de nosso comodismo, os quais se configuram em considerarmos tudo como normal. Continuamos a dizer, diariamente, que essas posturas são decorrentes de nossa inquietação. Fazendo isso, estamos nos distanciando cada vez mais de uma solução. O fato é que atitudes como a falta de atenção e a abordagem de assuntos paralelos aos temas de uma aula ou palestra, só dificultam a comunicação entre expositores e ouvintes, aspecto primordial para se apreender as informações.
Uma das maneiras de mudarmos essa mentalidade ingênua e sem foco é começarmos - desde agora - a conscientizarmos nossos alunos acerca do respeito e da educação que os mesmos precisam demonstrar. Falar para quem não ouve é uma tarefa árdua e desmotivadora, seja na escola, no trabalho, numa conferência, até mesmo em casa. Faz-se incoerente que o próprio interessado dificulte a comunicação daquilo que ele mesmo foi buscar. Esse aperfeiçoamento deve ser constante, pois se trata de um aspecto crucial para que haja interação entre as partes envolvidas em atividades dessa natureza. Precisamos, em regime de urgência, responder a uma questão importantíssima: "Quando será possível nos educarmos diante de quem nos fala?".
Um comentário:
Concordo plenamente. A comodidade parte não só dos próprios educadores, mas também dos alunos. Um muro fica entre os dois e a aula, palestra, ou seja lá o que for, se torna metódica e sem comunicação.
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