Cassildo Souza
Por que será que nós tendemos a acompanhar a maioria, convictos de que ela está sempre correta? Será que o fato de um número maior apoiar determinada ideia ou opinião corresponde ao fato de estarem com a razão? E o que é a razão, nesse contexto? É um posicionamento embasado, alheio ao que pensam os demais, ou seria filha dessa mesma maioria e, portanto, influenciada decisivamente por ela?
O fato é que estar convicto é uma tarefa muito complexa de ser atingida. Às vezes, por mais que tenhamos consciência de certas ações, parecemos esperar um aval dos "50% mais um" que em muitos casos nem têm conhecimento aprofundado sobre aquilo que está sendo julgado. Somos levados, na maior parte de nosso cotidiano, a avaliarmos coisas e pessoas por causa do índice de aceitação. Dá impressão que os números valem mais do que ideias, ações e pessoas.
Já tivemos várias confirmações do contrário. Exemplos não faltam de eventos cuja maioria foi declarada equivocada. Uma situação bastante comum em relação a isso são as eleições brasileiras. Ganha quem a maioria escolhe, certo? Nem sempre. O mais adequado seria dizer "Ganha aquele em que a maioria vota", o que não significa dizer que se votou porque se escolheu. Há muitos aspectos envolvidos num processo eleitoral que, dadas as circunstâncias, podem interferir na decisão final do eleitor, o qual - como temos observado - geralmente tem-se enganado. Então, ponto negativo para a premissa segundo a qual "A maioria sempre vence".
Outro aspecto a se comentar é que a "maioria" têm seus interesses e, por causa deles, pode cometer erros, já que a decisão pode ser adequada momentaneamente, mas no futuro trará consequências desagradáveis. Nesse caso, essa tal "maior parte" não estaria convicta de sua decisão e, desse modo, não teria elementos concretos suficientes para alcançar a verdade defendida. Faria apenas aquilo que a beneficiasse por certo tempo, na doce ilusão de estar tomando uma decisão razoável.
Sempre fui desconfiado dessas posturas que valorizam o "mais" o "maior", o "melhor". Aliás, duvido muito que isso tenha um fundamento efetivo. Não se pode julgar um ato como correto apenas porque aplaudiram, bem como não se deve desprezar uma ideia simplesmente por não lhe darem importância. Hoje em dia, mais do que antes, vive-se um momento das "falsas maiorias", já que em vários momentos as massas são ludibriadas, os públicos são comprados e a legitimidade não apresenta genuinidade.
Maioria não significa necessariamente razão. Até pode servir de referência, nos regimes democráticos, para se atender à vontade (mesmo que momentânea e sem referência) de um grupo, mas a convicção e a eficácia das decisões não precisam ser exatamente defendidas por todos. Explicam-se pelo embasamento dos motivos que levaram a determinada tomada de posição. E embasamento quase nunca tem a maioridade como pré-requisito.
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