Dezembro de 1998. Após não conseguir isenção para o Vestibular / 99, juntei um dinheiro meu com dez reais que minha tomara emprestado, para fazer a inscrição. Incentivado pelo Professor Simão (meu eterno mestre do Inglês), que já tinha me ajudado a inscrever no Concurso da Prefeitura de Currais Novos (para o qual fui aprovado e onde trabalho até hoje), realizei as provas do Vestibular. Minhas apostas sempre seriam na área de Língua Portuguesa, principalmente na redação, já que escrever e falar sempre se destacaram em mim em relação a outras habilidades.
Pois é, naquele ano de mudanças, com meu primeiro emprego e desejando crescer como ser humano e profissional, lembrando de todas as dificuldades que tive para estudar (sempre em escola pública), eu tomei uma grande decepção.
Meu pai, que sempre desejou ver um filho graduado, não saiu de perto do rádio no dia do resultado. Ficou lá (aliás, rádio o acompanha faz muito tempo), com o coração esperançoso. Algo me dizia que a notícia não seria boa. Quando cheguei em casa, à tarde, ele simplesmente falou: "Não tem importância, no outro ano você passa". Eu não sabia nada ainda, mas aquela afirmação era como se ele dissesse "você não conseguiu... desta vez".
Não ter passado no Vestibular não me abalou tanto quanto a surpresa que tive na retirada do extrato. Estava lá meu argumento final (508), quando o necessário para o Curso de Letras era 472. Eu havia zerado a prova de redação. Repito: eu zerei a prova de redação. E o interessante é que naquela época, havia 5 questões discursivas. Não entendo como zerei todas. Cogitei a possibilidade de uma rasura no caderno de provas. Enfim, chorar o leite derramado não adiantava mais àquela altura.
No ano seguinte, revi alguns conceitos. Passei a estudar com mais dois colegas, já que não tenho muita motivação para fazê-lo sozinho. Estudei bem mais que antes e discuti, debati, orientei, fui orientado...parece que eu tinha mesmo que ser professor. Ali eu já estava exercitando a minha função, da qual me orgulho plenamente.
O dia do resultado foi 18 de janeiro de 2000, exatamente na data em que meu pai aniversariava. Como há ironias no mundo! Foi o melhor presente de aniversário que poderia oferecer-lhe. Ele que um ano antes ficou em frente ao rádio esperando a minha glória, estava naquele momento, tendo a sua glória. Eu estava aprovado em 3º lugar.
O mais irônico disso tudo que, até então, minha experiência em sala de aula fora com Língua Inglesa. E através de um processo que não convém detalhar aqui, hoje encontro-me como Professor de Redação. Eu nunca tive dúvidas de minha aptidão para a Língua Portuguesa. Mas, se eu não tivesse minhas convicções, eu teria desistido, passaria a enxergar diferente, começaria a duvidar de minha capacidade.
Essa "perda" talvez tenha sido o meu maior ganho. Há alunos que estudam o ano todo, pagam cursinho pré-vestibular, renunciam diversões e, no final, se decepcionam. A vida é assim, mas nunca se pode desistir. É o que eu falo para meus alunos sempre. Eu sou um exemplo da recuperação, então, os outros podem passar pela mesma situação. Eu zerei uma prova que deveria ser meu maior trunfo e nem por isso achei que estava enganado. O sistema de vestibular é dessa forma: injusto, imprevisível, devorador. E hoje, trabalho para que os candidatos não cometam erros cruciais, como talvez eu os tenha cometido.
Se hoje trabalho com redação, sou muito grato a Deus por isso. Sei que muitas pessoas não gostam de mim, de meu trabalho, de minha maneira, às vezes até grosseira, de me comportar quando não estão dando a atenção devida à aula. Mas, digo-lhes que tenho o maior orgulho de que vocês sejam aprovados e torço muito por isso. Àquele alunos que têm interesse em melhorar a cada dia na privilegiada tarefa de escrever, ofereço-lhes minha disposição para, em qualquer ocasião, sanar dúvidas, conversar, incentivar. Mas também, sempre estarei à disposição daqueles menos interessados, no intuito de ajudá-los a ingressar na escrita. Essa é minha função. Procurem-me, vocês verão que sou menos chato do que imaginam.
Não desistam. O trabalho, o esforço, a renúncia sempre serão recompensados e estou, principalmente para aqueles que desconfiam de meu trabalho, sempre disposto a mudar para melhor, a receber críticas construtivas e sugestões.