Dia de matrícula nos cursinhos
preparatórios. Entre um e outro que faz sua inscrição, numa passada casual, o
professor tem os primeiros contatos com seus futuros alunos. "É professor
do quê?" - português e redação. A resposta é instantânea e automática:
"Ah, você vai me ajudar muito. Redação é meu calo, sempre me dava mal na
escola." Respondo prontamente, "será um prazer ajudar".
Essa cena é mais comum do que se pensa. Com 6 anos de experiência nos cursos preparatórios ao vestibular, eu já posso prever que - na maioria dos casos - essa conversa resulta do entusiasmo inicial de alguém que está entrando para uma nova fase - a da preparação. Sei, sem ser nenhum profeta, que dali a 2, 3 meses, boa parte daqueles que reclamavam ser ruins em redação tornar-se-ão piores, pela própria vontade.
Simplesmente não gostamos de escrever, com raras e boas exceções. A isso subjaz o não gostar de ler, de interpretar, de buscar respostas não automáticas para o que se pergunta ou propõe num texto verbal ou não-verbal. Isso é o que mais se vê nas instituições de ensino: professores, de todas as áreas, reclamando da falta de leitura de seus discentes. Um caso concreto, que tenho observado nos últimos meses.
Quando vou aplicar qualquer
atividade direcionada à produção de texto - especialmente em turmas de
pré-vestibular - 30 ou 40% dos alunos retiram-se da sala de aula, que já não
está cheia na disciplina de Linguagens e Códigos, ratificando a contradição de
não se praticar aquilo que eles mesmos dizem ser sua grande dificuldade. Isso
tem sido corriqueiro comigo. Se antes me sentia constrangido e preocupado com
minha metodologia, hoje só posso confirmar aquilo de que já desconfiava:
ninguém tem - de fato - compromisso com os estudos, a começar pela falta de
interesse em exercitar a escrita. Não não tem problema: "eu quero passar
no vestibular, mas não quero escrever".
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