31 de dez. de 2008

Ano Novo (Guilherme Arantes – 1999)

E o milênio vai virar
Seja lá em que direção
Muitas pedras vão rolar
Não se vive só de esperteza e diversão
Ideais vão despertar
Utopias vão renascer
Os valores vão mudar
Não há ordem perfeita imune à erosão
E na contramão da festa dessa multidão
Uma tribo estranha ainda resta
Mesmo dispersa na ilusão dos poetas
A vida se projeta em cada olhar ...

Onde você vai estar
Com quem vai dividir as lágrimas
Da esperança
E não basta chorar
O que você vai fazer
Pro ano novo ir muito além
Dos fogos que se lança

Mais que um corpo pra cuidar
Mais cabeça que um visual
Para o jovem se engajar
Pelo meio ambiente ou causa social

Na contramão da festa dessa multidão
Uma tribo estranha ainda resta
Mesmo dispersa na ilusão dos poetas
A vida se projeta em cada olhar ...

29 de dez. de 2008

QUESTÔES RESOLVIDAS - CONCURSO PÚBLICO

1 (P.M. Santos / FCC 2008) Estão corretamente flexionadas todas as formas verbais da frase:

(A) Se Isabel rever as imagens captadas há tempos por seu doador, talvez venha a se surpreender.
(B) A fina membrana não provém a memória das visões, nunca houve o caso de alguma que as retesse.
(C) As visões que proviessem de uma outra pessoa e passassem a ser nossas, seriam como fantasmagorias que em nossos olhos se detivessem.
(D) Ainda que não retenhem visões antigas, as córneas herdadas sempre deixarão a impressão de que acumularam muitas experiências.
(E) É desejo do autor do texto que Isabel distingua apenas as coisas belas, que veja apenas o que constitue a navegação dos dezoito anos.

Questões com verbos sempre exigem uma atenção especial. A letra “A”é descartada, pois os verbos irregulares (geralmente de 2ª conjugação) mudam as suas formas do infinitivo e futuro do subjuntivo. Não coincidem. A forma correta seria “Se Isabel revir”, diferente da que se encontra na alternativa (Portanto, no infinitivo, rever; no futuro do subjuntivo, revir; ter, tiver; fazer, fizer. E assim por diante). Acontece o mesmo na letra “B”. a forma verbal correta seria “retivesse” (imperfeito do subjuntivo) e não retesse. A maneira correta do verbo da letra “D” seria retenham. Na letra “E”, a forma verbal adequada seria distinga, e a forma constitue não existe; é constitui (constituir), assim como influi (influir), dilui (diluir), evolui (evoluir), contribui (contribuir).
A resposta é a letra “C” porque os verbos proviessem e detivessem derivam, respectivamente de provir (originada de vir) e de deter (originada de ter). Elas seguem a conjugação dos verbos originais, que seriam viessem e tivessem.

2 “Essa é uma questão social”. Respectivamente, as palavras classificam-se, em termos de morfologia, como:

a) artigo – verbo – numeral – pronome – substantivo.
b) pronome – conjunção – numeral - substantivo – adjetivo.
c) advérbio – verbo – adjetivo – numeral – substantivo.
d) pronome – verbo - artigo – substantivo – adjetivo.
e) pronome – verbo – numeral – substantivo – substantivo

Os vocábulos essa, esta, aquela e suas flexões sempre serão pronomes demonstrativos, pois apontam para algo no espaço, tempo e no contexto. Desse modo, descartamos as letras “A” e “C”. A palavra é constitui forma verbal de ser. Nesse caso, descartamos a letra “B”. Uma é artigo indefinido e não numeral, pois não quantifica coisa alguma, apenas dá idéia de indefinição. Ou seja, uma questão significa qualquer questão, não está clara qual é. Assim, já encontramos a resposta: letra “D”. Questão é substantivo, com a função de nomear determinada coisa, e social qualifica, caracteriza esse substantivo sendo, portanto, adjetivo.

CONCURSOS PÚBLICOS

Oi, pessoal!
Nesses dias de férias (não para mim), postarei algumas questões resolvidas de concursos públicos, na perspectiva de que teremos a realização de várias seleções de pessoal para preenchimento de cargos efetivos este ano.
Essa é uma contribuição que dispensamos àqueles que procuram estabilidade, muitos dos quais depositam confiança em nosso trabalho por saberem que, muito acima de qualquer mérito, é feito com seriedade e respeito pelos alunos.
Um abraço!
Cassildo.

26 de dez. de 2008

O nível de nossos alunos será o nível de nossa sociedade

Cassildo Souza(*)

Fico a refletir a respeito dos alunos que estão sendo moldados na entrada do século XXI. Para tanto, lembro alguns fatores que poderiam servir de parâmetros a esta análise: hoje, o número de escolas existentes é infinitamente superior ao de há algumas décadas, a quantidade de profissionais com nível superior cresceu consideravelmente e cursos de capacitação foram criados para qualificar os professores. Além disso (com muitas dificuldades), houve avanços significativos na remuneração docente. Mas, honestamente, será que essas melhorias refletem-se na prática educativa? Nossos estudantes estão preparados a enfrentar o mundo? Acredito que, infelizmente, não.

Quem atua em sala de aula pode atestar com toda a autoridade que a base desses indivíduos, no geral, ainda é muito precária, especialmente no que tece à matemática e à língua, aspectos preponderantes para conhecimento. O nível de leitura e de escrita não tem sido um motivo de orgulho para as crianças do Brasil, que corriqueiramente ficam abaixo da média, se comparados aos outros países da América do Sul. A disciplina matemática não é bem-vinda por um inestimável número de estudantes que não vêem a importância de certos conteúdos para o seu dia-a-dia. E se não percebem a relevância, provavelmente se interessam menos, aprendem menos.

Não me atreveria, aqui, a ensaiar que motivos levam a essa incoerência. Adiante falarei sobre apenas um que considero fundamental. Mas, se acontecem esses fatos, o que podemos esperar desses alunos quando eles chegarem à universidade e, depois, quando saírem para o mercado de trabalho? Muitos são os casos em que o nível superior não corresponde à atuação profissional. E tudo por uma questão de base, pois aquilo que não se aprendeu nas instâncias inferiores do ensino não será milagrosamente absorvido em apenas 4 anos. O fato é que por essa má formação, temos professores que não sabem ler, advogados que não conhecem a lei, médicos que não descobrem doenças simples, jornalistas que não apuram os fatos e engenheiros cujas obras não se sustentam por muito tempo.

Faço agora a referência que prometi no parágrafo anterior, acerca das razões que levam a um ensino precário. Vejo a falta de compromisso de certos profissionais da educação como a pior mazela que pode existir no processo educacional. Alguns deles se apóiam no fato de estarem no serviço público, não cumprindo suas obrigações e, por conseqüência, não atendendo às necessidades de seu público-alvo. Sem falar naqueles que concorrem ao cargo de professor e com pouquíssimo tempo recorrem a “padrinhos”, no intuito de não atuarem em sala de aula. Como não há uma cobrança rígida (nem interesse para que isso aconteça), ocorre uma reprodução perpétua como uma doença epidêmica e o resultado é catastrófico.

Se queremos desenvolvimento, progresso, bem-estar para nós mesmos, precisamos, enquanto educadores, realizar um trabalho sério, não simplesmente para mostrarmos que somos “bonzinhos” e aparecermos como as referências da prática pedagógica ideal; mas para que amanhã não sejamos prejudicados em decorrência de uma sociedade mal instruída e sem conhecimento científico. Nossos descendentes dependerão daqueles que estamos ajudando a formar hoje. E se não o fizermos da maneira adequada seremos as próprias vítimas desse processo.
*Autor deste blog, graduado em Letras,
especialista em Língua Inglesa, professor
de Língua Portuguesa para concursos e
vestibulares e funcionário público
da Prefeitura Municipal de Currais Novos.

23 de dez. de 2008

RENASCIMENTO

Quase nada é mais importante do que nascer. Apenas uma coisa o é. Renascer. Quando se renasce, se ressuscita, se regenera, se recompõe. É outro que chega dentro do mesmo um. Mas esse outro é novo, se não assim não seria chamado. Embora seja o mesmo, não o é totalmente. Há modificações na alma, na maneira de pensar, na maneira de agir.

Nesta época em que todos falam de Nascença, falaremos em Renascença. Se o Jesus Cristo nasceu há 2008 anos, estamos, a cada ano, comemorando o seu Renascimento, a sua Ressurreição. Isso deve ser transferido para nós, daí o costume de se renovarem as esperanças, de se fazerem planos, de se reverem conceitos.

Muito acima de qualquer apelação comercial propícia à nossa época, isso deve partir no sentido de melhorarmos enquanto seres da mesma evolução. De buscarmos o progresso de maneira coletiva, pois somos uma espécie, não somos um indivíduo. Devemos ser uma unidade, uma unidade que veja as suas engrenagens como os pilares de sua existência. Somos as engrenagens que movem a humanidade. Não que devamos fazer certas coisas somente agora, mas se não fosse para mudarmos, não haveria motivos para se renascer.

Todos nós podemos reavaliarmo-nos periodicamente, independente da época. Apenas temos o Natal como referência para que essa autocrítica seja realizada. Mas isso não impede, sob hipótese alguma, que estejamos constantemente à procura de uma posição mais cômoda para trilharmos o nosso caminho. De qualquer modo, um Aniversário tão importante não pode passar despercebido e, por essa razão, faz-se relevante o registro e o desejo de que todos consigam a tão esperada Renascença, como fez Jesus Cristo há pouco mais de 2000 anos

SILÊNCIO BARULHENTO (Cassildo Souza)

Quando esse silêncio romperá?
Há milênios sem manifestar-se
Ele me atinge como uma lança
Esse silencio, pela proporção, fez estragos
Mais barulhento do qualquer som
É um silêncio que incomoda
Silêncio que meus ouvidos não suportam
Vidros quebraram-se por sua causa
Crateras espaçosas se abriram
Melhor um som desagradável
Do que um silêncio intencional
Melhor a infâmia e a calúnia
Do que o calar não desejado
Melhor a manifestação errônea
Do que a medíocre omissão
Mas esse silêncio, nenhum barulho o supera
Nenhum silêncio é igual
É silêncio “não-silêncio”
Maior que a escuridão.

22 de dez. de 2008

PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS

Esses versos são dedicados a todas as pessoas que não cumprem as obrigações, àqueles a que já referi em um texto chamado “A exaltação da hipocrisia”, neste mesmo blog. A essas pessoas apenas desejo que passem pelo mesmo, embora não aprendam. Quem for capaz de enganar, seja também enganado, para sentir na pele o quanto é horroroso não ter seus direitos respeitados.

Trabalhar, não receber
Comprar e não acertar
Ser leviano, enganar
Não cumprir, só prometer
Esse aí não vai crescer
Prosperar jamais conseguiu
O sucesso nunca viu
Nem virá caso não mude
Está dentro de um açude
Pela forma que agiu.

Humilde trabalhador
Com tanto trato ele faz
O labor que nunca jaz
Parece ser com amor
Mas não recebe louvor
Pelas tarefas cumpridas
Só promessas repetidas
Quando muito ele recebe
O pouco que se percebe
Parece esmolas pedidas.

Não sabe por que caiu?
Pois eu sei, você nem sabe
Num dia em que tudo acabe
Não verá o que sumiu
Quanta riqueza exauriu
Dessas mãos que estavam sujas
Mas digo, agora não fujas
Que isso é o começo
Não terás mais um apreço
Nem nas suas garatujas.

18 de dez. de 2008

EU NÃO FIZ; NÃO FUI EU! (Cassildo Souza)

EU NÃO FIZ, NÃO FUI EU!
NÃO FUI EU QUEM FIZ, NÃO FUI EU!
NÃO VI ISSO, NÃO FUI EU!
JÁ LHES DISSE, NÃO FUI EU!
TREZENTAS VEZES, EU NÃO FIZ!
POR TUDO QUE EXISTE, EU NÃO FIZ!
SOCORRO, NÃO FUI EU!
JÁ LHES DISSE, EU NÃO FIZ!
NÃO FUI EU, EU NÃO FIZ!
NÃO FUI EU, JÁ LHES DISSE, EU NÃO FIZ!
EU NÃO FIZ, JÁ LHES DISSE, NÃO FUI EU!
NÃO ACREDITA, MAS NÃO FIZ!
EU NÃO FIZ, JÁ LHES DISSE, VEJA SE ACREDITA!
NÃO FUI EU, EU NÃO FIZ!
EU NÃO FIZ, NÃO FUI EU!

O PESO DE TODA A CULPA (Cassildo Souza)

Algumas questões não compreendidas:
Problemas da humanidade: o culpado é ele!
Inflação subiu: o culpado é ele!
Violência urbana: o culpado é ele!
Casos passionais: o culpado é ele!
Terrorismo no Oriente: o culpado é ele!
Transito infernal: o culpado é ele!
Orquestra desafinada: o culpado é ele!
Ruas esburacadas: o culpado é ele!
Ganância e ambição: o culpado é ele!
Anti-ético e sem estilo: o culpado é ele!
Qualquer coisa que aconteça,
Se não há suspeito,
Passa a existir:
O culpado é ele!
E ponto final!

17 de dez. de 2008

DIFERENÇA ENTRE COMPLEMENTO NOMINAL E OBJETO INDIRETO

Tenho recebido muitas dúvidas de meus alunos a respeito da diferença entre Complemento Nominal e Objeto Indireto. A diferença é simples, por isso quem conseguir entender um, conseguirá também compreender o outro. Esses elementos quase sempre são objetos de concursos, exames e vestibulares.
Trata-se de complementos distintos, mas muito semelhantes, pelo uso da preposição. Quando o verbo é transitivo indireto, apresenta preposição; nomes que regem (exigem) complemento também apresentam preposição. Lembro que substantivo, adjetivo e advérbio classificam-se como nomes.
Sempre que o termo complementar verbos que exijam preposição (gostar de, confiar em, obedecer a), será objeto indireto; sempre que complementar nome (certeza, necessidade, favoravelmente, propenso), será complemento nominal. Então, vamos aos exemplos:

1. Eu ACREDITO nas pessoas que falam a verdade.
Acredito: V.T.I (Acredito em quem?/em quê?)
Nas pessoas que falam a verdade: Objeto Indireto (Complementa verbo Acredito)

2. A CRENÇA nas pessoas que falam a verdade é algo sensato.
Crença: Nome (substantivo abstrato, exigindo complemento: crença em quem?/em quê?)
Nas pessoas que falam a verdade: Complemento Nominal (Complementa nome Crença)

Desse modo, é só verificar se o termo regente é verbo ou nome. É preciso atentar para o fato de que complemento é qualquer termo que não pode ser dispensado para que o anterior tenha sentido completo.

A SÍNDROME DA DESCONFIANÇA

Por Cassildo Gomes Rodrigues de Souza

Não sei o que anda acontecendo comigo, mas penso de maneira totalmente diferente de como pensava antes. Talvez seja resultado da falta de criatividade, da ausência de coisas que me façam encarar a vida de outra maneira. Tenho adotado uma visão talvez até meio radical, mas é fato: Todas as vezes que alguém é questionado, começo a desconfiar de que esse alguém tem razão naquilo em que o criticam.

Na minha cabeça, a ausência de conhecimento e de análise tem sido aspectos marcantes na contemporaneidade. Posso até estar errado, mas ninguém tem muita preocupação com a qualidade hoje em dia. Quem procura ser seletivo, é tachado de "metido", arrogante, prepotente. Parece que fizeram um pacto com tudo quanto existe de ruim e sem fundamento em detrimento das coisas que nos poderiam conferir mais conteúdo e consistência. Se fôssemos citar exemplos, poderíamos falar sobre política, educação, música e cultura em geral e até mesmo o futebol. Quanta qualidade se perdeu!

Se as pessoas que procuram selecionar aquilo que lhes parece mais adequado estão erradas, então não sei que caminho seria o certo. O fato é que constantemente somos bombardeados por modismos que, meteoricamente, acabam para dar lugar a outro. Enquanto isso, os aspectos que realmente apresentam qualidade dormem num ostracismo somente desvendado por aqueles que se "atrevem" a redescobri-los, mesmo enfrentando o mundo inteiro. O curioso é que a humanidade está inclinada a supervalorizar certas novidades e são elas as que aparecem mais, vendem mais, atraem mais. De novo, questiono se essa supremacia da quantidade sobre a qualidade.

O que tem consistência, entretanto, resiste ao tempo e à mediocridade. Temos de analisar as coisas de maneira consciente e global, sem nos influenciarmos pela propagação de mídia que, em grande parte, utiliza-se de argumentos que não convencem mas que "preenchem" as mentes por um certo período de tempo. O que é bom, independentemente de quantidade, prevalece em qualquer segmento. Só para lembrar, a obra de Machado de Assis, a musicalidade dos Beatles e de Bob Dylan no exterior, de João Gilberto, Tom e Vinícius aqui no Brasil, a habilidade de Oscar Niemeyer, a lucidez de Ariano Suassuna, entre outros exemplos sustentam a tese de que o aspecto qualitativo nunca se curvará ao quantitativo.

Continuarei desconfiando sempre que algo for demasiadamente enaltecido, o que não significa, necessariamente, que as coisas mais visíveis e atraentes sejam ruins. O fato é que as modas gastas apreciadas por uma maioria de alienados não podem ser jamais consideradas valiosas apenas por chamarem mais a atenção. Nesse caso, diria que esse caminho seria uma espécie de contraponto à idéia da quantificação, do pensamento de todo mundo, do que a massa decide ser bom ou ruim. Essa análise deve partir, com consciência, de cada um, alheio a números isolados, sem crítica alguma.

16 de dez. de 2008

LETRAS DE MÚSICAS

Incertezas II (Cassildo Souza)

Como saber o que se pode fazer
Para tomar a decisão correta?
É preciso bom senso,
Chegar a um consenso,
Encontrar uma janela aberta:
Uma iluminação para o meu túnel
Algo não muito especial
Apenas uma orientação, um conselho
Para que eu não fique tão espacial.

O mundo dos incertos já não me atrai
É preciso estar certo, seguro
Não quero mais me afogar nesse mar
De questões que me deixam em apuros.
O alimento-razão só precisa combater
Essas incertezas que temos a conhecer
Elas não têm importância
Vamos viver sem isso, sem essa alternância.

Só preciso de uma resposta
Algo assim muito trivial
Mas a luz é essencial para que essas dúvidas
Para sempre desapareçam.

Estou certo de que a certeza virá breve
Dessa vez sem nenhum escândalo,
Foi tudo bem leve.
Quando isso tudo vier a acontecer
Um prazer enorme eu terei de viver.

EM PRINCÍPIO / A PRINCÍPIO

Muitas pessoas entendem que esses dois termos são a mesma coisa. Não são. Em princípio significa em tese, em teoria, teoricamente. A princípio significa primeiramente, em primeiro lugar.

Então, vejamos os sentidos que as frases assumem com cada um deles:

Em princípio (teoricamente), a educação deveria dar as pessoas uma capacidade de honestidade maior.

A princípio (inicialmente), ele não quis adiantar o caso. Disse que detalharia depois.

É preciso ter cuidado com o uso de termos dessa natureza, pois o sentido de uma oração pode ser modificado radicalmente apenas com uma pequena alteração. Neste caso específico, tanto em como a são preposições e mesmo assim apresentam valores semânticos diferentes.

DIFERENÇAS ENTRE VÊ/VER E VERBOS SEMELHANTES

Na língua portuguesa existe uma dúvida muito grande em relação a formas verbais acentuadas que se assemelham aos infinitivos pessoais e impessoais. Por exemplo, qual seria a ocasião correta para se usar VÊ e VER? Em que situações um e outro devem ser empregados?

As formas VER, CRER, LER, DAR e ESTAR são infinitivas (nome do verbo) e, quando conjugadas na terceira pessoa do singular (ele, ela ou semelhante) perdem o "R" e são acentuadas. Então o verbo CRER tornar-se-á CRÊ na conjugação; o verbo VER tornar-se-á VÊ e assim por diante.

Ele ainda crê na recuperação da equipe. (certo)
Ele ainda crer na recuperãção da equipe. (errado)
A atenção que Edson a seus alunos é insuficiente. (certo)
A atenção que Edson dar a seus alunos é insuficiente. (errado)

Percebam que usar, nesses casos, o verbo no infinitivo seria alguma coisa estranha, como observamos na comparação seguinte:

Antônio faz com que os processos sejam agilizados = Edson atenção aos alunos.

Antônio fazer com que os processos sejam utilizados = Edson dar atenção aos alunos.

O infinitivo, no entanto, funcionará como verbo principal no caso de locução verbal (mais de um verbo valendo como um só), como no esquema abaixo:

Edson pode dar atenção a seus alunos de forma mais eficiente. (certo)
Edson pode atenção a seus alunos de forma mais eficiente. (errado)

Na comparação,

Edson pode fazer tudo mais corretamente = Edson pode dar atenção a seus alunos.
Edson pode faz tudo mais corretamente = Edson pode atenção a seus alunos.

Então, para resumir, as formas verbais com "R" vistas aqui são infinitivas e serão utilizadas nas locuções verbais, como verbo principal; as formas verbais acentuadas serão utilizadas de forma simples, como verbo flexionado na oração.
Um abraço e até a próxima postagem.

9 de dez. de 2008

ILUSTRES CURRAIS-NOVENSES

Tenho refletido muito ultimamente sobre a qualidade que Currais Novos vem demonstrando quanto a seus escritores e poetas, principalmente os da nova geração. Há alguns dias, numa entrevista pela TV Assembléia, Nei Leandro de Castro citava as nossas queridas Maria José Gomes e Iara Carvalho como duas das melhores novidades nos últimos tempos. Constantemente, Wescley Gama é apontado nas primeiras colocações dos concursos literários que ocorrem por aí. E ainda temos Adriano dos Santos, Luma Carvalho, Adélia Daniele, entre outros. A lista cresce a cada dia, o que, para quem se permite desfrutar de uma certa sensibilidade, é um evento passível de análise e de uma importância maior.

Dois desses maravilhosos seres, Théo Alves e Marcos Leopoldo, também foram felizes em participações recentes de concursos a nível nacional. O primeiro recebeu mensão honrosa na modalidade de contos, em evento promovido pela Secretaria de Estadual de Educação do Paraná, com direito à publicação na coletânea composta pelos trabalhos selecionados; o segundo participou de um seleção de 100 textos, promovida pela Folha Dirigida, com a participação de mais 15.000 professores, cujo tema era alusivo ao Centenário de Machado de Assis. Assim como Théo, teve sua redação publicada e elevou o nome de nossa cidade, muito embora esses acontecimentos, para a maioria sem sensibilidade, não tenha muita relevância. O fato é que eles brilharam e, repetindo um clichê, "contra fatos não há argument0s". Só para registrar, fui presenteado por ambos com os dois exemplares editados pelos eventos.

Mas, apenas o registro não seria, a meu ver, uma homenagem justa. Por isso, publico a seguir os dois textos desses ilustres currais-novenses, reforçando a idéia de que precisamos olhar com mais carinho os nossos artistas. E falo isso para aqueles que têm sensibilidade. Para os outros, só posso lamentar a falta de sorte em não poder separar o que é bom do que é ruim:


Quando chegou o morto (*)

Théo Alves

O morto está chegando, o morto já vem, o menino gritou antes de passar pelo portão e imediatamente se fez o vozerio grave dos homens que cobravam as apostas. Houve quem batesse no peito e disse eu avisei, eu disse que esse nunca falha. As mulheres corriam ao redor da mesa, empilhavam velas e rosas por toda a casa e tudo murchava e ressecava, porque o calor não permitia viver. Elas se entreolhavam em silêncio, rezingavam e vez por outra sofriam, sem poder esconder a alegria de ver chegar o morto desejado.

A festa animava as crianças, que corriam de um lado a outro e se jogavam no chão sujando a roupa de domingo reservada para o cortejo. Ninguém se importa mais. A felicidade era ver que o morto chegava, finalmente. Os homens da prefeitura carregando-o nos braços também sorriam com a alegria da rua. Deitaram-no sobre a mesa, como foi pedido, e tomaram café quente com bolachas salgadas feitas ela mãe do morto. Ela lhes agradeceu recomendando a Deus as boas almas desses bons rapazes que trouxeram essa pequena alegria para esta pobre mãe sem consolo. Comovido, um dos homens disse-lhe não há de quê, senhora, seu filho é um morto exemplar.

Deitado sobre a mesa, ele brilhava como se estivesse suado. As mulheres diziam ser o sopro dos anjos e repetiam só pode ser, só pode ser o sopro dos anjos. As mulheres que o tiveram em vida estavam lá, ao redor do morto brilhoso. Os maridos aceitavam sem resmungos, mas com pontas de ciúme, essa reconciliação amorosa sem tino. Uma segurava-çhe a mão gelada e dizia surdamente que está mais lindo do que nunca, tem o vico das crianças negras e dos jambos.

Do lado de fora, os homens ainda recebiam seus dinheiros. Batiam no peito os vencedores a se gabar: eu tinha certeza de que o morto não faltaria, eu sabia. E os outros riam, faziam volteios antes de pagar. Bebiam muito e agradeciam ao morto pela graça do jogo inusitado, por essa breve alegria em momento tão solene. Levantavam copos e garrafas de cachaça e bradavam a ele, ao morto, a ele que chegou na hora certa como sempre. De lá ouviram o primeiro baque surdo. Prego, martelo, a tampa do ataúde. O homem da prefeitura metia nos pregos no caixão.

Um silêncio redondo foi se formando em volta das marteladas, cada prego entrando na cara do caixão era uma voz silenciada. Os homens voltaram à sala, as mulheres choravam silenciosamente de lenços na mão, a mãe do morto tinha ares de quem iria desmaiar, mas não desmaiava. O morto não sairia. Não saiu, pelo que se sabe.

Pegaram o ataúde pelas alças como se carregassem o morto pelos braços outra vez. Do lado de fora o vento levantava uma poeira de ouro fina que grudava como purpurina no corpo do séquito; o vento tomava volume. Jogava de um lado para outro os muitos coqueiros da rua central até os da praia; as palhas se balançando como quem dança, a copa das árvores e os troncos mais finos endiabrados, rodando, rodando. As nuvens tornavam-se escuras como a testa das ovelhas no dia de cinzas. O povo fazia sinais de cruz e se benzia; as crianças olhavam para cima e tropeçavam na terra, atônitas diante do festival nunca antes visto no céu.

Ameaçava chover. Chover como desde 1965 não chovia. Querenta anos sem chover e agora a tempestade batia na porta e na cara da cidade. Empurrava o morto para adiante. Tanta gente que nunca vira chover em toda a vida frente ao espetáculo que se formava no céu. Na terra, o ataúde seguro pelas alças se balançava em direção a cova rasa. E o povo agora andava em silêncio. O morto impassível dentro do caixão, sem um sorriso, uma lágrima que fosse. Toda a cidade olhava para cima.

Deitaram-no rapidamente na terra e a mãe jogara-lhe os primeiros punhados sobre a cara. Toda a cidade olhava para cima e por muito pouco não o esqueciam de enterrar. O prefeito disse duas ou três linhas mal arrumadas, a mãe lembrou-se de chorar na última hora e os homens da prefeitura jogavam-lhe as pás de terra sem olhá-lo: olhavam para o céu. Os coqueiros dançando endemoninhados. Chuva! chuva!, o prefeito gritou; Decreto oficial, era chuva, como não chovia desde 1965. As crianças correndo para casa e as mulheres chorando ajoelhadas; homens atônitos e a mãe do morte prestes a desmaiar, mas não desmaiava. No meio da chuva a horda enumerava seus gritos de santo! santo! este morto é santo!. E o morto calado deitado na terra, sem pensar em nada.

ALVES. Théo. Quando chegou o morto. In: Concursos literários 2007: premiados 2007. Curitiba/PR: Secretaria de Estado da Cultura, 2008. 120p.
(*) Menção honrosa no evento "Concursos Literários 2007", promovido pela Secretaria de Estado de Cultura do Paraná.

A importância de Machado de Assis um século depois de sua morte

Marcos Leopoldo de Souza

Nem mesmo um século foi capaz de enquadrar o grande romancista brasileiro na alcova do esquecimento, pois o gênios não nasceram para tal, mas para serem perpetuados pelo tempo, através de suas magníficas idéias. O gênio não conhece o limite impõe às suas vidas, antes o aporta, como marco para observar as relações que o coabita e retira, com base nessa observação, o que há de mais universal e concreto nas relações humanas.

Machado de Assis soube representar com tamanha destreza o que há de mais genuíno quanto à gênese estrutural da psicologia humana. Ele, filho de pais pobres, epilético, gago por nascença e possivelmente fadado a passar despercebido pela existência, contra todas as projeções negativas, consolidou-se como escritor de raríssimo talento. O escritor Machado soube analisar com máxima profundidade as virtudes e principalmente os maus hábitos que estão intrinsecos `r condição humana. Não foi um escritor de frases assumadas e desapartadas de reflexão, ao seu crivo nem mesmo ele foi poupado de análises criteriosas. Foi implacável na crítica social, demonstrando em suas personagens adúlteras, inescrupulosas e lunáticas o misto existente em compactação de uma sociedade.

Em um primeiro momento, Joaquim Machado de Assis se deixou guiar pelos apelos e apegos românticos, entretanto, com o amadurecimento literário transfigurou-se, superando o espírito idealista do romantismo e aportou em outro mundo. O mundo do real e do objetivo como sendo o laboratório ideal para testar e refutar suas teses bem como o da construção de suas personagens, no entanto, sem perder a pureza dos grandes escritores, pois estes não estão preocupados em definir padrões sociais, mas apresentá-los como elementos que estão inseridos na sociedade para serem questionados. Machado vai além das cortinas da aparência, disseca-a insinuando o que pode gaver por detrás desta, uma vez que a realidade, que se apresenta aos olhos do expectador, muitas vezes não responde a todos os questionamentos que o espírito humano faz ao mundo, a si mesmo e aos outros. Assim, Machado com seu olho clínico e sua destreza mental demonstrou uma supremacia comparada aos grandes que como tais construíram mágníficos clássicos, pois não deixou que sua obra fosse mascarada, mas sim revelou caminhos que instigavam o leitor à reflexão e até manteve com este um laço muito próximo, sempre buscando acordá-lo do sono que aparenta ser, isto porque o eterno insatisfeito que era, forçosamente não o deixaria nas margens de fórmulas rápidas e simbolicamente prontas.

Pela lucidez que foi capaz de pôr em suas obras e pelo poder de observação que construiu às suas personagens, Machado desbravou e intensificou os detalhes humanos, não como uma linda aquarela que mostra, aparentemente, as cores do que pode ser a imagem, mas como reduto permeado dos mais variados sentimentos e pensamentos eminentes ou objetos. Foi cortante e incrivelmente perturbador, sempre deixou o espírito do leitor semeado de muita inquietação, depositando no mesmo uma insatisfação, que para muitos representa o primor de grandes escritores. Não deixou que o leitor se conformasse como algo puro e detentor de toda verdade porque propôs uma linha descompromissada com definições, antes sugestionou que ele próprio, o leitor, era capaz de encontrar as suas definições.

Enfim, Machado revelou - em suas obras - um mundo não cheio de acasos, mas também recheado de intenções. Portanto, foi um escritor que sintetizou um povo que poderia se ver em qualquer parte do planeta, com todas as virtudes e mazelas. E contribuiu incisivamente para enobrecer a nossa produção literária, uma vez que sua obra transitou pela poesia, teatro, crônicas, contos, novelas e romances com extrema facilidade e expressiva competência. Machado potencializou a produção literária de nosso país e deixou caminhos para que outros encantassem o próximo pela arte da palavra. Certamente, muitos dos que hoje edificaram seus nomes na construção literária foram se molhar e beber nesta fonte riquíssima chamada de mestre da literatura brasileira.

Dessa forma, para as agudas inteligências pouco importa a época para se viver, porque suas idéias são sempre contemporâneas. Por isso que Machado sobrevivu ao tempo, e o filho que antes era, transformou-se no pai de uma produção literária que venceu a barreira convencional do tempo humano, consagrando-se definitivamente no tempo por se fazer sempre contemporâneo.

SOUSA, Marcos Leopoldo de. In A importância de Machado de Assis um século depois de sua morte. Coletânia de Redação para Professores. Academia Brasileira de Letras/Folha Dirigida, set/08. (*) Esse texto ficou entre os 100 mais bem avaliados e teve direito à publicação. Não foi atribuído título, os textos foram feitos com base em um tema, ficando a escolha do gênero livre aos candidatos.

São dois textos realmente de qualidade que enobrecem a minha geração (com todo o orgulho) e justificam as palavras iniciais dessa postagem.

3 de dez. de 2008

RESULTADO DA PROVA OBJETIVA!!

Segundo nota publicada no site da Comperve, hoje, 03-12-2008, a partir das 18h, sairá o resultado da prova objetiva do Vestibular / 2009 da UFRN. Vamos ficar atentos e projetar as possibilidades para a segunda fase.
Boa sorte a todo mundo.
Cassildo.

1 de dez. de 2008

"O MELHOR VAI COMEÇAR"

Tenho recebido agradecimentos de vários alunos que prestaram o Vestibular / 2009. Surpreendemente, tenho recebido essas felicitações.
Quando falo em surpresa é porque, humildemente, se colaborei com alguma coisa, acho que não fiz mais do que minha obrigação enquanto professor comprometido com o aprendizado daqueles que confiam em mim. E até dos que não confiam. Evidentemente eu não serei hipócrita em refutar o reconhecimento e algum elogio porventura recebido. Mas acho que os candidatos que procuraram empenhar-se, renunciando horas prazerosas e de lazer, se o fizeram com o coração, é que merecem os elogios. Todos os que, de uma forma ou de outra, esforçaram-se, alguns até fazendo "milagre" para poder pagar as mensalidades de um cursinho pré-vestibular, são dignos de todas as considerações. Fazem-me lembrar os meus tempos de vestibulando em que nem a oportunidade de preparar-me numa instituição especializada eu tive. São heróis na acepção do termo, pessoas que não só sonham, mas que querem transformar essa busca em um ato concreto.
Fico feliz em receber palavras de carinho e de reconhecimento ao meu trabalho, após um início de incertezas e de dúvidas em relação à minha maneira de me portar na sala de aula. Nunca duvidei de mim mesmo, mas sei que as coisas devem caminhar conjuntamente. E quando os alunos, mesmo em minoria, nos dão algum apoio que seja, sentimo-nos muito mais motivados a realizar as tarefas que nos competem.
Quero dizer-lhes que o melhor ainda está por vir. Vocês agradecerão a si mesmos, daqui a alguns dias, quando o resultado for divulgado. E aí eu é que estarei agradecendo, comprovando que o esforço que todos empreenderam valeu a pena.
Vamos em frente, porque, como diria Guilherme Arantes, "O melhor vai começar". E não demora.