Cassildo Souza(*)
Fico a refletir a respeito dos alunos que estão sendo moldados na entrada do século XXI. Para tanto, lembro alguns fatores que poderiam servir de parâmetros a esta análise: hoje, o número de escolas existentes é infinitamente superior ao de há algumas décadas, a quantidade de profissionais com nível superior cresceu consideravelmente e cursos de capacitação foram criados para qualificar os professores. Além disso (com muitas dificuldades), houve avanços significativos na remuneração docente. Mas, honestamente, será que essas melhorias refletem-se na prática educativa? Nossos estudantes estão preparados a enfrentar o mundo? Acredito que, infelizmente, não.
Quem atua em sala de aula pode atestar com toda a autoridade que a base desses indivíduos, no geral, ainda é muito precária, especialmente no que tece à matemática e à língua, aspectos preponderantes para conhecimento. O nível de leitura e de escrita não tem sido um motivo de orgulho para as crianças do Brasil, que corriqueiramente ficam abaixo da média, se comparados aos outros países da América do Sul. A disciplina matemática não é bem-vinda por um inestimável número de estudantes que não vêem a importância de certos conteúdos para o seu dia-a-dia. E se não percebem a relevância, provavelmente se interessam menos, aprendem menos.
Não me atreveria, aqui, a ensaiar que motivos levam a essa incoerência. Adiante falarei sobre apenas um que considero fundamental. Mas, se acontecem esses fatos, o que podemos esperar desses alunos quando eles chegarem à universidade e, depois, quando saírem para o mercado de trabalho? Muitos são os casos em que o nível superior não corresponde à atuação profissional. E tudo por uma questão de base, pois aquilo que não se aprendeu nas instâncias inferiores do ensino não será milagrosamente absorvido em apenas 4 anos. O fato é que por essa má formação, temos professores que não sabem ler, advogados que não conhecem a lei, médicos que não descobrem doenças simples, jornalistas que não apuram os fatos e engenheiros cujas obras não se sustentam por muito tempo.
Faço agora a referência que prometi no parágrafo anterior, acerca das razões que levam a um ensino precário. Vejo a falta de compromisso de certos profissionais da educação como a pior mazela que pode existir no processo educacional. Alguns deles se apóiam no fato de estarem no serviço público, não cumprindo suas obrigações e, por conseqüência, não atendendo às necessidades de seu público-alvo. Sem falar naqueles que concorrem ao cargo de professor e com pouquíssimo tempo recorrem a “padrinhos”, no intuito de não atuarem em sala de aula. Como não há uma cobrança rígida (nem interesse para que isso aconteça), ocorre uma reprodução perpétua como uma doença epidêmica e o resultado é catastrófico.
Se queremos desenvolvimento, progresso, bem-estar para nós mesmos, precisamos, enquanto educadores, realizar um trabalho sério, não simplesmente para mostrarmos que somos “bonzinhos” e aparecermos como as referências da prática pedagógica ideal; mas para que amanhã não sejamos prejudicados em decorrência de uma sociedade mal instruída e sem conhecimento científico. Nossos descendentes dependerão daqueles que estamos ajudando a formar hoje. E se não o fizermos da maneira adequada seremos as próprias vítimas desse processo.
*Autor deste blog, graduado em Letras,
especialista em Língua Inglesa, professor
de Língua Portuguesa para concursos e
vestibulares e funcionário público
da Prefeitura Municipal de Currais Novos.
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