Não tenho dúvidas de que meu contato com as letras se deve, essencialmente, a meus pais. Cresci com elas, pois, para quem não sabe, eles são violeiros. Ele, Luiz Rodrigues de Souza, do Rio Grande do Norte, indefinidamente de Lajes Pintadas ou São Tomé; ela, Maria Lindalva Gomes de Souza, autêntica paraibana, do Sítio Baixio, em Araruna. Além de improvisar (sou suspeito para dizer que isso é um dom fantástico), sempre compuseram canções e inevitavelmente, seja pelo DNA ou pela influência do meio, eu me tornaria profissional da área de Línguas.
Minha mãe possui mais de cem composições, das quais algumas foram transformadas em dois CDs. Meu pai escreveu menos, mas sempre com um cuidado peculiar na métrica, aspecto primordial na cultura popular, e também chegou a gravar um disco. Desde cedo, ambos incentivaram-nos (a mim e a meus irmãos) a escrever correto, a ler, a fazer as tarefas da escola, mesmo num ambiente precário e sem muita estrutura material. Esse contato constante com a escrita e com a composição não se resume a minhas atribuições atuais. Meus dois irmãos mais novos se aventuraram a escrever um filme, vejam só! De novo, sou obrigado a citar o DNA como elemento fundamental nessa transmissão, que torna tudo natural para nós. Digo, orgulhosamente, fomos criados completamente com o irrisório dinheiro ganho nas feiras, nos bares, até altas horas da madrugada, e, eventualmente, em alguns festivais. Hoje, aposentados, nossos "velhos" estão mais tranqüilos e chegou a hora de devolvermos tudo o que deles "tiramos" para sobreviver.
Talvez e, principalmente, o maior legado que apreendemos tenha sido essa habilidade, se assim pudermos chamar, de para tudo termos que escrever. Expressar através de palavras escritas aquilo que, muitas vezes, não pode ser falado é um privilégio e não se mede aqui o mérito de ser bom ou mal escritor. Basta ser escritor, pois a pretensão de ser reconhecido com isso inexiste, já que é suficiente essa característica incontestável que eu e meus irmão possuímos. Sou grato a meu pai e minha mãe, que possibilitaram essa incrível experiência da qual nunca mais quero livrar-me. Sou feliz.
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