24 de set. de 2010

ARTIGO DE OPINIÃO

ESCOLA "INTEGRAL" E ESCOLA COM DOIS TURNOS

Cassildo Souza

Começo abordando a dualidade do termo. "Integral", em meus conceitos, tanto pode ser uma palavra empregada para indicar totalidade, quanto para significar aquilo que une, que liga, enfim, que integra elementos de uma estrutura. Numa época em que tanto se alude à escola integral - às vezes, sem a menor noção do que ela realmente vem a ser - só há sentido conceber essa proposta caso se considerem esses dois significados.

Em minha forma de pensar, a escola não pode simplesmente aumentar a carga horária, passando de um para dois turnos, apenas para se dizer "integral", no sentido de completa, de total, de fazer os alunos estarem lá mais tempo. Isso presume estrutura, espaços físicos adequados, equipe maior e mais comprometida, criação de atividades complementares que sejam distintas daquelas já tradicionalmente existentes. Se a escola já se apresenta pouco atrativa e intediante em um único turno, só dobrar o tempo de duração das aulas, sem um objetivo específico e nos mesmos moldes das que já são ministradas, seria submeter os alunos a uma tortura física e psicológica ainda maior.

A passagem de um para dois períodos dar-se-ia não por um capricho, mas para possibilitar a tal "integração" do que é visto na teoria com a aplicação prática; para permitir que o momento de lazer, esporte e saúde não se confrontasse com os conteúdos realmente necessários à formação; para levar o aluno à instituição com uma exigência mental menor, mais correlacionada com o dia-a-dia; tornar a ida até a escola uma coisa habitual, tendo em vista uma necessidade específica de ampliar conhecimentos, como se vai ao supermercado ou à feira comprar produtos, a uma lan-house acessar a Internet, ao banco apanhar dinheiro, à praça ver os amigos, a um clube de jogos se divertir, e assim por diante.

Para tanto, as escolas - especialmente as públicas - que não apresentam, no geral, um ambiente adequado a um único turno, teriam de adaptar-se radicalmente a essa nova ordem. É válido ressaltar que tal mudança não aconteceria do dia para a noite. Teria de haver por parte dos órgãos competentes um planejamento muito bem elaborado, para prover os estabelecimentos de laboratórios diversos (inclusive de informática, com amplo acesso à Grande Rede), complexo esportivo, refeitório, dormitórios, biblioteca espaçosa e um número suficiente de profissionais capacitados para encarar esse novo desafio.

Precisamos tratar um assunto como esse de modo muito sereno. Não podemos pensar apenas em carga horária maior achando que isso resolverá os problemas de ensino no País. Em primeiro lugar, deveremos buscar o ensino em turno único mais atrativo, mais qualificado, mais eficiente. Depois, sim, poderemos cogitar a possibilidade de oferecer uma escola integral na acepção completa da palavra: quantitativa e qualitativamente. Tal discussão não se encerra em si, e todos os segmentos, principalmente os educadores, necessitam estar atentos às distorções que o tema - por sua própria natureza - apresenta. Aos professores - atores principais do processo em conjunto com os alunos - caberia a obrigação de buscar reciclagem continuada, a fim de adequar-se às tantas exigências decorrentes desse novo modelo.

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