9 de mar. de 2011

MODELO DE RESENHA CRÍTICA

RESENHA CRÍTICA

BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. In: Cap. 10: A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere.

O capítulo aludido refere-se ao testemunho em Memórias do Cárcere, texto de Graciliano Ramos, que retrata as memórias de um militante enquanto encarcerado . A sua abordagem é da perspectiva da testemunha, dentro do que foi adotado recentemente em Congresso de Havana.

No texto, o narrador das Memórias é analisado não como um revolucionário que discute as ideologias do país, (segundo o próprio capítulo alude), mas como um indivíduo que, em detrimento a uma interpretação sistematizada e articulada das idéias que o levaram à ruína, apenas observa surpreso as situações. Não há preocupações mais críticas ou que o levem a pormenorizar todo o tipo de questão.

O ensaio de Bosi chama a atenção para que, a despeito de coisas negativas que são referidas, o narrador de Memórias do Cárcere não transcende o limite da compreensão desses mesmos aspectos negativos, inclusive pelo desinteresse observado quanto ao Partido Comunista. O Capítulo 10 grita para o caráter problemático do narrador e o compara com outra obra de Graciliano Ramos, São Bernardo. Chama ainda a atenção para o fato de que As memórias são mais uma auto-análise que não se usa da percepção apurada e do espírito lúcido para fazer relações, ocorrendo interrupções na possibilidade dessas conexões.

O texto trabalha um subtítulo, denominado A CRISE DO PRECONCEITO, em que mostra o narrador reelaborando suas opiniões e equívocos gerados pela sua condição e cujo julgamento, muitas vezes, não são adequados ou se apresentam precipitados. Exemplifica essa crise com o episódio dos dois policiais negros, que ele inicialmente achava que eram a mesma pessoa – e mais refletidamente observara que não – e em relação ao choro do advogado Dr. Nunes Leite. E o Capítulo cita que tal “testemunha” era um “crítico radical do senso comum que se alimenta de estereótipos”.

Outro subtítulo abordado pelo texto é ESCRITA E CONSCIÊNCIA, cuja discussão caracteriza-se por identificar que o narrador das Memórias vai além da simples observação despretensiosa ou das intenções de um jornalista ou historiador. A despeito de não apresentar-se propenso a modificar aquilo que vivera mesmo dez anos após sua reclusão, Alfredo Bosi fala numa espécie de “relativização” tanto das próprias versões como das alheias, e a pergunta, como reflexão, persegue o longo das memórias expostas pelo narrador. No ensaio do literato, a intenção principal é focar-se no texto de Graciliano Ramos como sendo um testemunho de situação vivida que é contada de forma mais fidedigna possível.

E, se se está tratando de memórias, os LIMITES DO SUJEITO pontua que não se pode confundir com a prosa de ficção a escrita do seu testemunho, mostrando que não se verifica no livro de Graciliano uma invenção do que quer que seja por questões estéticas. O ensaio reitera a condição de depoente do narrador de Memórias do Cárcere e, por isso, ressalta a “força” e “os limites do sujeito” visto na situação adversa.

Assim, pode-se dizer que a tônica da análise é que a literatura de Graciliano, nas Memórias do Cárcere tem um cunho menos ideológico e mais realista, sem perder a consciência do que se passa, mas também, sem ultrapassar muito as barreiras daquilo que aconteceu e, nessa trajetória, altos e baixos são visíveis, mas nada que contradiga o sentido próprio de testemunhar, de descrever as lembranças de alguém que se viu num ambiente peculiar e de repercussão considerável em sua vida.

Em suma, o Capítulo 10 aqui referido apresenta elementos suficientes para que se consiga conhecer um pouco mais a característica testemunhal da obra de Ramos, em Memórias do Cárcere.

2 comentários:

Unknown disse...

Num pode resumir nao mano...

Unknown disse...

Num da para resumir nao mano...