Seguindo as tradições - sem entanto constituir dogma - desejo que o ciclo a se iniciar seja bem mais leve para a maioria. Para a maioria, porque entendo que nem todos consideraram totalmente ruim o período anterior. As realidades são distintas a cada ser. Individualmente considero "15" um dos melhores de minha vida pessoal e profissional; pensando coletivamente, eu devo concordar que muita coisa negativa ocorreu. Muitas das quais por nossa própria culpa. Refletir é, também, assumir os erros.
Não podemos desvincular de nossas ações o sucesso de uma temporada; vivemos culpando os outros, creditando fracassos a terceiros; se um projeto não foi bem-sucedido, se um empreendimento deu errado, "foi culpa da crise"; crise é, aliás, uma palavra mágica que tem se tornado clichê para responder de imediato aquilo para o qual não temos a resposta sólida. A crise financeira não é sozinha responsável pelos desmandos do Brasil e do mundo. Ele é cruel, é verdade. Mas há crises moral, institucional e familiar no decorrer de nossa história. Há crise nos valores: ser honesto virou ingenuidade. Esses problemas juntos é que acabam por resultar na avalanche a que temos assistido diariamente, em especial em nosso país. São, de fato, crises. E crises de múltiplas facetas.
Se queremos falar de boas novas, de projetos bem-sucedidos, de realizações pessoais e profissionais, comecemos de nós mesmos. Não precisamos do discurso para fazê-lo. Desejar Feliz Natal ou Feliz Ano Novo tornou-se quase uma expressão do tipo "bom dia", "está quente aqui", "tudo bem?", despretensiosas, quando não se tem assunto para abordar. É preciso, muto mais do que desejos em vão, que atitudes existam. Ações que nos signifiquem e nos dignifiquem por estarem devidamente associadas ao que falamos ou escrevemos, onde quer que estejamos.
Desejo menos hipocrisia; menos violência; menos corrupção. Então digamos: "desejo que eu seja menos hipócrita, menos violento, menos corrupto; desejo que eu me afaste cada vez mais do egoísmo, da inveja e da falsidade; desejo que eu me mantenha firme em minhas convicções, desde que elas não prejudiquem terceiros; desejo que eu seja menos egocêntrico, mais tolerante; que eu seja cada vez mais consciente de minhas limitações; desejo também que eu tenha autoestima, consciência de meu valor; desejo, enfim, que eu esteja sempre a caminho de me tornar mais humano". O discurso em primeira pessoa favorecerá - de fato - as mudanças necessárias.
Não sendo assim, o "Feliz Ano Novo", "Bom Ano", "Feliz 2016" e expressões correlatas continuarão a constituir dogmas dos quais a humanidade já não mais precisa. E assim, a tradição será renovada por puro capricho, não nos trazendo absolutamente nada de evolução para o mundo.
Que em 2016 sejamos os primeiros a assumir nossos erros.
Grande Ano a todos.