2 de jan. de 2009

TRANSIÇÕES (CASSILDO SOUZA)

Confesso que tenho um pouco de medo das transições. Todos nós, de certa forma, o temos. É que o ser humano, ainda que seja adaptável, parece desconhecer essa condição e, quando percebe, já se encontra num outro estágio, numa outra instância de atuação. O mais relevante é procurar entender alguns fatores: primeiro, se a mudança proposta depende de nós; segundo, se a mudança proposta ou imposta (em caso de não depender de nós) é para melhor ou pior.

Nem sempre temos o poder de decidir as mudanças. Nem sempre podemos prorrogá-las ou antecipa-las. Mas há uma coisa que sempre será possível e que depende exclusivamente de nós. A análise. A auto-avaliação. Sem dúvidas, é oportuno vivermos com a luz do senso crítico ligada constantemente; termos consciência das fraquezas e forças, das virtudes e dos defeitos, dentro da premissa de que ninguém é imperfeito em totalidade, nem tampouco o contrário. O fato é que essa análise é um pilar de nossa decepção ou sucesso em decorrência de uma mudança qualquer.

Auto-análise ou auto-avaliação não é tão simples como queremos pregar. É muito fácil terminar o ano dizendo que se deseja um ano seguinte melhor do que foi o anterior, apenas por uma convenção tradicionalista. É muito cômodo dizer-se às pessoas que se espera tudo de bom, prosperidade, união, compreensão, afeto, amor. Difícil é praticar. É muito árduo colocar as teorias em prática. Aliás, é muito doloroso estabelecer as teorias, daí a prática ser igualmente “reacionária”.

Quando se chega a um novo período, uma nova era, devemos olhar para o que ficou mal resolvido, malsucedido, mal encaminhado com uma visão sincera de que nem sempre fazemos o melhor por uma questão óbvia de não possuirmos o dote da perfeição. No entanto, aproximar-se da perfeição também compreende auto-analisar-se, auto-avaliar-se, enfim, ter uma visão panorâmica das qualidades boas e ruins. E isso que se deve esperar ao entrarmos na sala de 2009, para que possamos sair pela porta da frente, tendo percorrido todos os seus compartimentos sem traumas e incompreensões.

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