27 de nov. de 2010

O QUE DEIXAREMOS DE CONHECIMENTO?

Esses dias, algumas questões têm-me deixado bastante inquieto: uma delas diz respeito às pessoas que estamos formando (ou "desformando"), à geração futura e ao que ela poderá nos deixar de positivo. Realmente, estou com poucas perspectivas.

É impressionante - e isso eu mesmo testemunho - a falta de objetivos que a geração atual ostenta para instruir-se cada vez melhor. Parece que todo mundo esqueceu-se de que precisa planejar sua vida e traçar metas. A condição fundamental para isto é estudar, profissionalizar-se, enfim, capacitar-se. A a sistematização dos conhecimentos e a sede pela perfeição andam ausentes neste mundo complexo.

Abordo um aspecto do qual sou suspeito para falar, mas que de uma maneira ou outra não pode ser esquecida: o bom uso da língua. Não sei por quê, mas as pessoas impregnaram que só devem falar e escreve bem aqueles que se aventuram pelos caminhos da Língua Portuguesa: professores, literatas, lingüistas. Quanto engano! Essa mentalidade rude só nos reforça a tese de que precisamos mudar muito os nossos conceitos, se quisermos ser grandes um dia. Não podemos admitir profissionais graduados - sejam de qual área forem - escrevendo, falando e compreendendo errado as coisas.

Mas não paro por aí. O pior é quando os profissionais têm dificuldades em suas áreas específicas: médicos que não atendem bem os pacientes; professores que se expressam equivocadamente; repórteres que não sabem se portar diante de um entrevistado; recepcionistas que não sabem dar informação, entre outros casos. Tais situações nos indicam que a capacidade profissional é pequena, porque justamente o período em que tais pessoas tiveram para moldar a sua profissão não foi bem aproveitado.

Infelizmente, já não é surpresa. Estamos cansados de escutar pessoas dizerem "eu sou formado", "tenho o curso superior", "sou graduado nisso", "sou especialista naquilo"e mesmo antes de mostrar seu trabalho, nem falar correto sabem. Não é uma crítica destrutiva, é uma constatação. E quando têm a oportunidade de mostrar serviço - em sua área escolhida - cometem deslizes primários, comprometendo uma carreira. Por que será que isso corriqueiramente ocorre?

São várias as respostas. Mas existe uma muito peculiar. Além de ouvir as frases destacadas acima, também já ouvi outras do tipo "cobro 500 reais por uma monografia, vivo disso". Há evidências mais do que perceptíveis de que estão formando-se cartéis de "produção de monografias". Pessoas, na ânsia de adquirirem um diploma, contratam esses serviços para poderem concluir o trabalho que deveria representar o resumo teórico de seu curso. Pergunto: nessas condições, que conteúdos teóricos, de fato, tais indivíduos apreenderam em sua passagem pelo ensino superior?

Torna-se ilegítima a alegação de que o diploma garante maior capacidade. Depende do diploma. O original, essencial, aquele que representa fielmente as horas de cansaço, de leitura e de produção escrita de trabalhos realmente tenderão a constituir-se em pré-requisito para a seleção. Mas as réplicas, as imitações mal acabadas, acabarão diluindo-se à medida que as exigências do mercado aparecerem. Por isso, a reflexão não pode ser desconsiderada: que conhecimento estamos construindo e que conhecimento estamos deixando para as gerações é uma questão a ser respondida diariamente, pelas nossas ações.

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