Em meio a diversas hipocrisias que alimentam a sociedade, especialmente nesta época apelativa e marqueteira, em que ícones de diversos segmentos e marcas comerciais aproveitam para se promoverem, vejamos o lado obscuro que não muda, infelizmente, com a chegada do Natal. Não que a comemoração natalina seja a responsável pelas desigualdades, mas - pela euforia da época - nos falta às vezes a percepção daqueles que não podem dizer "Feliz Natal!".
Será que as crianças, milhares delas, que estão passando fome (por incrível que pareça, ainda existem aos milhões em todo o mundo, cerca de 900) estão incluídas nessas comemorações? Sem comida, sem escolas, sem brinquedos, sem pais, sem afeto, sem cidadania, sem lazer, elas se inserem nas falas do "Feliz Natal", "Próspero Ano Novo", "Boas Festas", "Venturoso Ano Novo"? Evidentemente que não.
E aqueles que lutam por receberem suas dívidas, trabalhistas ou provenientes de outras atividades, sem sucesso, sem perspectivas, com a dignidade ferida, o que farão na passagem do dia 24 para o dia 25? Poderão comprar pelo menos seu alimento básico para dar a seus filhos, os quais já não possuem vestuário para se apresentarem com decência nessa noite tida como "de comemoração pelo nascimento de Jesus Cristo"? De certo, não podem celebrar muita coisa, mas apenas ter uma ponta de esperança para que o próximo período seja menos tirano.
Nós, brasileiros, que dedicamos 127 dias apenas para quitar nossos impostos anualmente, que temos nossas casas invadidas por ideologias perversas, que temos réus confessos poderosos condenados e impunes, que morremos à míngua para colocar o filho na escola ou para conseguir um procedimento médico, podemos dizer - plenamente - Feliz Natal? Tenho muitas dúvidas sobre isso.
Ainda bem que, humanos que somos, dotamo-nos da capacidade de visualizar dias melhores e talvez essa abstração natalina seja o combustível que nos ajuda a mantermos tal esperança ativa. Caso contrário, o Natal não teria sentido para a maioria das pessoas, pois já que se trata de celebração, precisamos melhorar muito a humanidade no intuito de conferir sentido à comemoração, saindo desse lado obscuro. Que o Natal, tido pelos terráqueos como o Renascer, como a vinda de um novo tempo, tenha em suas próximas edições um significado coerente com o que esperamos para o planeta: dignidade e aversão à hipocrisia. Mas, é claro, trata-se de uma mudança coletiva com iniciativa individual.
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