10 de dez. de 2012

PARA QUE ESFORÇO? O SISTEMA DÁ UM "EMPURRÃOZINHO"


Respondam-me se forem capazes: o que é preciso para ser aprovado de uma série para outra, na escola? ABSOLUTAMENTE NADA. Numa época em que se tem discutido muito se o aluno deve ser reprovado, proponho-me a afirmar que o sistema, da maneira como se encontra montado, dispensa essa discussão. É preciso ser muito competente, talvez um "nerd", um superdotado, para conseguir ser reprovado hoje em dia.

Vamos refletir: se uma UNIDADE ESCOLAR (tradicionalmente chamada de BIMESTRE) comporta, em média, 3 atividades principais para medir o rendimento do aluno (estou ciente das teorias sobre avaliação contínua), admitamos que apenas 1 dessas tarefas seja a prova tradicional, valendo 10,0, sem consultas e que o aluno obtenha nota 3,0. Em tese, o bimestre desse aluno estaria comprometido, certo? "Em tese", sim; na prática, não! A prova na qual ele precisava sobressair-se para não se prejudicar em nada interferirá no seu resultado final.

Ainda haveria 2 atividades a realizar, e elas não seriam nos moldes da primeira, que é aquela responsável por medir o conhecimento teórico, científico. Em um seminário em grupo, este discente conseguiria, no mínimo, nota 8,0, até mesmo pela maleabilidade do professor; numa terceira avaliação, um trabalho escrito também em grupo, ele dificilmente obteria menos de 7,0. Realizando-se os devidos cálculos, a soma das 3 notas seria 18,0, o que significaria média 6,0, suficiente - caso repetida nos outros bimestres - para que houvesse a aprovação.

Alguns dirão que estou sendo muito pragmático em analisar as coisas assim. Pois tomo a liberdade de dizer que pragmáticos (e às vezes aleatórios) são os professores que atribuem as notas sem que estas representem de fato a realidade observada em determinada tarefa. Como não é possível fazer certas concessões pela avaliação mais tradicional, já que apresenta valor fixo, a flexibilidade exacerbada fica destinada às outras formas de mensuração do rendimento e, na dúvida, favorece sempre o aumento e nunca a diminuição da nota. A média 6,0, por todas essas razões, acaba sendo insignificante e praticamente simbólica.

Teríamos que rever algumas coisas nesse sistema louco: nem estaria correto supervalorizar um modelo tradicional, tornando-o exclusivo, nem - por outro lado - esquecê-lo completamente, como se a obrigação do aluno para conseguir ultrapassar etapas fosse apenas a presença na sala de aula (alguns nem isso conseguem). A avaliação contínua tem sido uma matéria distorcida por alguns que - ora não têm experiência prática, ora querem "fazer de conta" que contribuem para a educação. Devem ser revistos a média quantitativa mínima para aprovação, a quantidade de atividades que não incentivam o pensar, bem como os critérios pelos quais professores saem distribuindo vários "dez" deliberadamente, sem que simbolizem realmente o mérito da atividade realizada. Do jeito que as coisas se apresentam, não é preciso fazer ABSOLUTAMENTE NADA para ser aprovado. Afinal, para que esforço, se o sistema dá um "empurrãozinho"?

3 comentários:

Riedja Ladislau Porto de Araújo disse...

Sábias palavras, caro amigo! Se a educação anda a nos dar "empurrõezinhos", o que se dirá dos seres os quais essa mesma educação tem formado para o mundo?!

Unknown disse...

Eu dei tanto empurrãozinho este fim de ano que moveria um avião...

CASSILDO SOUZA disse...

Pois é, cara Riedja e Mina Clara; há muitas coisas que devem ser revistas em nossa educação. Não é somente uma questão remuneratória e de luta de classes. É uma reformulação geral.
Grande abraço e obrigado por prestigiar este espaço.