2012: como em anos anteriores, a 4 de janeiro do ano passado, após as 13h, um barulho de fogos de artifício tomava
conta das ruas da cidade, gente gritando numa histeria sem fim; alto-falantes,
faixas comemorativas. Por que tudo isso? Resultado do vestibular da UFRN, um
dos mais prestigiados do Nordeste, aguardado com ansiedade por muita gente; 2013: alguns poucos alunos comemorando,
escolas e cursinhos “calados”, Facebook mais movimentado pelas dúvidas que as
listas geravam do que pelos resultados em si. Finalmente, a nova era do
vestibular pelo ENEM chegara. E ainda não temos os 100% de vagas da UFRN
incluídas nesse processo.
A primeira grande discussão gira
em torno dos alunos que entraram pelas cotas sócio-raciais, que – neste primeiro
ano para a UFRN – correspondem a um percentual geral de 12,5% reservados a alunos de escolas públicas
enquadrados em duas faixas de renda: abaixo ou acima de 1,5 salário-mínimo. Há um
destaque, no início da lista, para tais candidatos contemplados. Como a maioria
dos cursos só ficou com 50% das vagas pelo processo normal da UFRN, a lista
restante é cerca de 40% do que normalmente estamos acostumados a presenciar.
Resultado disso: poucos aprovados nos mais vários cursos, motivo pelo qual as
divulgações pelos institutos preparatórios ou pelas escolas têm sido tímidas.
Este é – para nós, que nunca
tivemos seleção da UFRN pela nota do ENEM – o primeiro grande impacto da transição
anunciada há algum tempo. Ficou estranho porque é novo, diferente, imprevisível
até ontem. Talvez estejamos caminhando, isto é bem provável, para um ciclo em
que não mais haja necessidade de se comemorar o vestibular, que somente existe
porque não conseguimos garantir vagas para todos nas universidades; e nem existiria
possibilidade de pôr todos os alunos secundários nos cursos superiores, basta nosso
ensino básico já ser muito precário, e ainda assim estarmos colocando mais
gente nas academias do que a capacidade permite, em minha visão.
Daqui para frente, muito mais
vagas nas universidades, muito mais ênfase ao ENEM; por um lado, isso é bom, é
democrático, evitará que uns tenham de comemorar em função da desgraça dos
outros; no entanto, a quantidade de vagas – ao crescer substancialmente sem que
o nível básico seja prestigiado – poderá gerar um “excesso de contingente” do
saber; mas esta é outra discussão. Tendo em vista isso, o número de aprovados
tenderá a aumentar com a abertura do SISU, entre 7 e 11 de janeiro, no qual os
alunos poderão inscrever-se em até 5 cursos (aqueles que já realizaram outras
seleções, terão de diminuir as opções). Depois desse período é que todas as
instituições que trabalham na preparação de alunos terão um panorama mais fiel
da porcentagem aprovada.
Não podemos nos esquecer de que
o ENEM foi bem anterior ao vestibular; evidentemente, quem o realizou apostou
todas as suas fichas naquele momento; ofereceu todo o seu potencial possível. Então,
por esse lado, há uma possibilidade de desempenho melhor, já que era o primeiro
processo ao qual se submetiam, uma vez que os vestibulares são todos do final
de novembro em diante, caso do processo da UFRN. Com 3 semanas de intervalo
entre o Exame Nacional e o vestibular, provavelmente isso interferiu na prova
seguinte, por toda a dedicação destinada à primeira, uma vez que se trata de exames
totalmente diferentes. Isso certamente será observado quando houver a
divulgação da primeira chamada do SISU, pela qual alunos que se inscreveram
para a UFRN terão seus nomes anunciados.
Trata-se, portanto, de um novo
momento, que se direciona – reiterando o que já afirmamos – para um dia em que
passar no vestibular nada mais será do que um processo normal em nossas vidas.
Isso já se presenciou ontem, aqui no interior RN. Talvez fosse como deveria ter
sido sempre. Esperemos os eventos futuros, cuidando para que as conseqüências
de tanta gente nas universidades – finalidade para a qual o ENEM foi
reformulado – não sejam drásticas.
4 comentários:
Bom texto! Mas há um erro: o vestibular ano passado teve sua listagem oficial de aprovados divulgado no dia 04/01 e não no dia 06/01. Abçs!
Obrigado, Ricardo, pela correção, fica registrada aí.
Obrigado, Ricardo, pela correção, fica registrada aí.
Parabéns pelo belíssimo texto.
E se for de valia um comentário a mais, além do índice baixo de aprovados, não foram aprovados pessoas em cursos de "peso" (definição "peso" usada por uma pessoa de cursinho,referindo-se ao fato de que só iria ao programa um aprovado de letras,e, não um de psicologia, medicina e afins(e como se não fosse "importante" o curso de letras))
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